Uma única falha em um componente hidráulico foi a causa do acidente envolvendo um bombardeiro furtivo B-2A Spirit da Força Aérea dos Estados Unidos, ocorrido em dezembro de 2022 na Base Aérea de Whiteman, no Missouri. O relatório da Junta de Investigação de Acidentes (AIB), divulgado nesta segunda-feira (5), estimou os danos à aeronave em mais de US$ 300 milhões.
O incidente aconteceu em 10 de dezembro de 2022, durante a extensão do trem de pouso, quando uma conexão hidráulica CryoFit se rompeu, resultando em perda rápida de fluido hidráulico nos sistemas primário e de emergência. A falha obrigou a tripulação a acionar o procedimento de extensão emergencial, mas o trem de pouso principal esquerdo colapsou no pouso, arrastando a asa do bombardeiro na pista e gerando duas explosões após o contato com o solo.
Apesar da gravidade do acidente, os dois tripulantes escaparam ilesos. O relatório exclui falha humana como fator contribuinte, confirmando que nenhuma ação incorreta da tripulação influenciou no desfecho da ocorrência.
Colapso estrutural e falhas de projeto
De acordo com o coronel Jesse W. Lamarand, que liderou a investigação de 18 meses, o rompimento da válvula hidráulica foi o principal responsável pela sequência de falhas que levaram ao acidente com a aeronave de matrícula 90-0041, pertencente à 509th Bomb Wing.
Mesmo com todos os três trens de pouso aparentemente “baixados e travados” nos instrumentos de cabine, o sistema não conseguiu manter a integridade estrutural do trem esquerdo, que cedeu sob o peso da aeronave durante a aterrissagem. A asa esquerda arrastou-se por mais de 9.000 pés (cerca de 2,7 km), provocando chamas que atingiram os tanques de combustível e culminaram em explosões sucessivas.
A investigação apontou ainda dois fatores adicionais que agravaram a situação:
- Vulnerabilidades no projeto do trem de pouso, que permitiram o destravamento do sistema durante o procedimento emergencial;
- Demora na resposta dos bombeiros, causada por incertezas sobre o uso do agente extintor adequado, o que retardou em mais de três minutos a contenção do fogo.
Problema recorrente
O relatório destaca que falhas semelhantes já ocorreram 25 vezes na frota de B-2, sendo 10 delas nos circuitos hidráulicos dos trens de pouso. Em cinco casos, o defeito envolveu exatamente a válvula do atuador de sequência do trem principal, sendo que dois resultaram no colapso do trem esquerdo.
Um incidente anterior, em setembro de 2021, levou à substituição de molas defeituosas e ajustes nos sensores de proximidade. A aeronave acidentada havia recebido essas modificações em junho de 2022 e completado 33 voos desde então.
Mesmo após análises avançadas com tomografia computadorizada e microscopia eletrônica, a causa exata da falha na conexão CryoFit não pôde ser determinada.
Impacto operacional
Após o acidente, o Comando de Ataque Global da USAF (AFGSC) suspendeu temporariamente todos os voos com B-2 para inspeções de segurança. As operações foram totalmente retomadas somente em maio de 2023.
O B-2A Spirit, fabricado pela Northrop Grumman, é um dos aviões mais avançados do mundo, com capacidade furtiva e de ataque nuclear estratégico. Atualmente, é operado pela 509th Bomb Wing da USAF e pela 131st Bomb Wing da Guarda Nacional Aérea do Missouri.
O relatório reforça a importância de revisões contínuas de engenharia e logística para manter a segurança de aeronaves críticas como o B-2, cuja frota permanece central na capacidade de dissuasão estratégica dos EUA.■