Há cinco anos, em 4 de agosto de 2020, Beirute foi palco de uma das maiores explosões não nucleares da história causada pela ignição de centenas de toneladas de nitrato de amônio – material altamente explosivo usado em fertilizantes – que estavam armazenadas de forma inadequada no porto da cidade há anos.

A tragédia matou 235 pessoas, feriu mais de sete mil, deixou cerca de 300 mil desabrigados e destruiu uma parte significativa da capital. Um memorial em homenagem às vítimas foi organizado pela sociedade civil e idealizado pelo ativista Wissam Diab foi inaugurado às vésperas da data.

Próxima a uma das entradas do porto, a homenagem consistiu na inauguração de um espaço público em que haviam sido plantadas oliveiras. A escolha da árvore também se deve ao seu significado espiritual – em escrituras sagradas como o Alcorão, a oliveira é descrita como uma árvore abençoada – e sua associação com o amor e respeito pela terra, especialmente na Palestina.



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Além disso, um trecho da avenida Charles Hélou foi redefinida como “Rua das Vítimas de 4 de Agosto”.

Sentada próxima à uma das oliveiras estava Tanal Tannous Atta, mãe de Abdo, vestida de preto e carregando um broche com a foto do filho, morto na explosão. Ela parecia alheia ao burburinho da homenagem – que contou com a presença do primeiro-ministro Nawaf Sala.

“Há cinco anos perdi não só o meu filho, mas também o amigo dele e a casa de três andares onde vivíamos”, disse a Opera Mundi. Abdo, relatou ela, era um estudante universitário promissor e liderava o grupo de escoteiros Al-Hikma. Seu outro filho, que também estava na residência no momento da explosão, ficou preso sob os escombros por 17 horas. Sobreviveu, mas perdeu a mobilidade.

Investigação: atrasos e impasses político-partidários

Quando questionada sobre suas expectativas diante do marco de cinco anos da tragédia, Tanal respondeu sem hesitar: “espero por uma justiça que nunca foi feita e por uma verdade que jamais veio à tona.” Com isso, ela se referia à investigação e responsabilização dos envolvidos na explosão – um processo que se arrasta há cinco anos, marcado por atrasos e impasses político-partidários.

Tanal Tannous Atta, morto na explosão, carregava broche com foto do filho

A investigação do caso, que envolve representantes de diversos grupos religiosos do Líbano, foi retomada em janeiro deste ano após bloqueios e obstáculos políticos. Apesar de já ter incluído interrogatórios de autoridades, o ato formal de acusação ainda não foi apresentado.

Em meio à busca das famílias por justiça, multiplicam-se as especulações sobre quem seria o responsável pelo incidente. De acordo com investigações internacionais, a alfândega libanesa, a autoridade portuária e o serviço de segurança geral tinham conhecimento da presença de materiais perigosos no local, mas não tomaram nenhuma medida para removê-los ou garantir sua segurança.

Reportagens de jornais libaneses indicam que a carga explosiva armazenada no porto teria ligação com o governo sírio de Bashar Al Assad, que caiu em dezembro de 2024. O Hezbollah, grupo armado e partido político xiita libanês, também está no centro das controvérsias. Em outubro de 2021, o agrupamento e o Amal – outro influente partido xiita no país – acusaram a investigação de viés político, alegando que ela se concentra de forma desproporcional em seus aliados.

Memorial das vítimas próxima ao porto de Beirute, com oliveiras plantadas

Luto que atravessa as divisões sectárias

A libanesa Layla participou da homenagem a capital do país e contou a Opera Mundi que perdeu o filho Jack e a noiva dele, Nicole, no incidente. “Meu filho teria feito 35 anos este ano. Ele voltou para Beirute às 16h e a explosão aconteceu às 18h07’’.

Layla rechaçou a presença de autoridade libanesas no evento, já que, para ela, estavam ali apenas para “distrair” a população. “Nunca fizeram nada de real para revelar a verdade sobre a explosão. Uma oliveira não vai trazer meu filho de volta”, disse.

Apesar da dor, a libanesa ressaltou a força da união entre as famílias das vítimas, que pertencem a diferentes seitas. Ela explicou que os familiares realizam encontros mensais para manter ativa a luta por justiça.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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