Os hospitais do Rio de Janeiro registraram mais de 21 mil atendimentos a motociclistas feridos em 2025, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. O número representa um aumento de 60% em comparação ao mesmo período de 2024. Atualmente, quase 80 pessoas por dia chegam às unidades da rede municipal após acidentes de moto.
Histórias que marcam
João Pedro Freitas, de 18 anos, trabalhava como entregador quando sofreu um grave acidente em maio. Ele ficou internado por dez dias no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, e passou por duas cirurgias. As cicatrizes no rosto e na perna lembram não apenas o impacto físico, mas também a mudança de vida que o episódio trouxe.
“Imprudência minha, tenho que admitir. Se eu não tivesse avançado o semáforo, talvez hoje eu não teria essa cicatriz”, contou o jovem, que decidiu abandonar o trabalho de entregas e repensar sua postura no trânsito. “Quem anda de moto precisa ter muito mais consciência. Qualquer descuido pode ser fatal.”
Hospitais no limite
O aumento dos acidentes de moto pressiona o sistema de saúde. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia aponta que mais de 70% dos motociclistas internados permanecem hospitalizados por mais de uma semana. Essa ocupação prolongada de leitos tem impacto direto na rotina dos hospitais: metade das cirurgias eletivas no país é cancelada porque as vagas estão ocupadas por vítimas de acidentes de trânsito.
“As lesões muito graves exigem tecnologias mais sofisticadas e caras. Isso eleva os custos e reduz a disponibilidade de recursos para outros pacientes”, explica o ortopedista Marcos Correia, coordenador do setor no Hospital Estadual Alberto Torres.
Educação e fiscalização como saída
De janeiro a julho deste ano, o SUS registrou 98,4 mil internações de motociclistas em todo o Brasil. Para os especialistas, reduzir esses números depende de ações combinadas.
“É preciso investir em fiscalização imediata e, a longo prazo, em educação no trânsito. Sabemos que educação leva tempo para gerar resultados, mas é o caminho mais consistente”, afirma Marcos Correia.