O Departamento de Saúde do Estado de Washington, nos Estados Unidos, confirmou um caso de gripe aviária em uma mulher moradora do condado de Grays Harbor. A paciente é uma idosa que tem comorbidades e foi hospitalizada com sintomas da doença no início de novembro. Esse é o primeiro caso em humanos no país desde fevereiro.

“Testes adicionais mostram que o vírus é o H5N5, um vírus de influenza aviária que já havia sido registrado em animais, mas nunca antes em humanos”, acrescenta a autoridade em nota.

A gripe aviária diz respeito a um conjunto de cepas do vírus influenza, entre elas a H5N1, que tem chamado mais atenção pelo mundo, que geralmente circulam apenas entre aves, mas provocam casos esporádicos em outras espécies e em humanos. No Brasil, o primeiro caso de gripe aviária foi confirmado em maio de 2023 em aves silvestres.

De acordo com a autoridade de saúde americana, a nova paciente no país tem um plantel de aves domésticas em casa, e os animais tiveram exposição a aves silvestres. Esse contato, e a posterior proximidade da mulher com as suas aves, é considerado a fonte mais provável de origem da infecção pelo vírus. Ainda assim, a investigação continua.

“O Departamento de Saúde do Estado de Washington está trabalhando com o departamento de Saúde local e com o departamento de Agricultura do estado para concluir as investigações de exposição e de saúde animal. Especialistas em doenças de saúde pública não identificaram qualquer aumento de risco para o público”, afirma.

O risco de contaminação pela gripe aviária permanece baixo para o público geral nos EUA. Abaixo, confira as principais perguntas e respostas sobre a doença, os sintomas, tratamento e a possibilidade de infecção.

1. A gripe aviária infecta humanos?

Pessoas são contaminadas esporadicamente devido ao contato com animais infectados. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2003 até o fim do ano passado foram registrados 939 casos humanos de gripe aviária em 24 países, dos quais 464 evoluíram para a morte (49%). Não existe registro de disseminação da gripe aviária entre humanos, ou seja, de pessoa para pessoa.

2. Qual o risco hoje para a população brasileira?

— A transmissão para os humanos é esporádica e ocorre principalmente pelo contato de pessoas que têm ocupação no manuseio, no contato com esses animais, que têm um risco moderado. Mas para a população geral esse risco é muito baixo — reforça a virologista e professora da Universidade de São Paulo (USP) Helena Lage, que trabalha na resposta à gripe aviária no Brasil.

Rosana Richtmann, médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, explica que seria preciso que o vírus passasse por alguns processos evolutivos para conseguir se disseminar entre pessoas, o que aumentaria o risco para a população:

— Nós não somos bons para esse vírus, não temos receptores para ele. Então primeiro teria de haver um contato maior entre o humano e as aves. E, uma vez que o humano tenha esses casos, o vírus precisaria de mutações para poder ser transmitido de pessoa para pessoa.

Ainda assim, há uma preocupação de que a expansão da gripe aviária leve a uma nova pandemia, já que a disseminação do vírus entre espécies e países favorece a ocorrência das mutações que podem o tornar mais adaptado aos seres humanos.

— Um caso de coinfecção de gripe aviária com H1N1, que é o vírus de gripe humana que está circulando hoje, por exemplo, é um risco porque a mesma pessoa com esses dois vírus pode funcionar como um “laboratório” para que eles se combinem e criem pequenas mutações. Daí sim teríamos uma gripe aviária que se adaptou a humanos — cita Rosana.

Por isso, ela explica que as medidas mais importantes agora são as do uso do equipamento de proteção por trabalhadores que atuam com o manuseio desses animais. Além disso, indivíduos que tiveram contato com aves doentes e que manifestem sintomas gripais devem procurar ajuda imediatamente.

3. Há risco no consumo de frango ou ovos?

As autoridades de saúde reforçam que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos, não havendo qualquer restrição ao seu consumo.

4. Como ocorre a contaminação?

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), as aves infectadas expelem o vírus por meio de sua saliva, mucosas e fezes. Por isso, humanos podem ser contaminados quando o vírus entra nos olhos, nariz ou boca ou é inalado pelo contato próximo.

Isso pode ocorrer quando o vírus está no ar em gotículas pelo contato próximo ao animal ou quando uma pessoa toca em algo contaminado e depois encosta na boca, nos olhos ou no nariz.

5. Quais os sintomas da gripe aviária em humanos? Há tratamento?

Ainda segundo os CDC, embora raro, quando um humano contrai a gripe aviária, os sintomas costumam envolver:

  • Vermelhidão ocular (conjuntivite);
  • Sintomas respiratórios superiores leves semelhantes aos da gripe;
  • Pneumonia que requer hospitalização;
  • Febre ou sensação de febre;
  • Tosse;
  • Dor de garganta;
  • Nariz escorrendo ou entupido;
  • Dores musculares ou no corpo;
  • Dores de cabeça;
  • Fadiga ou
  • Falta de ar ou dificuldade para respirar.

Outros sinais e sintomas menos comuns incluem diarreia, náusea, vômito ou convulsões. A febre nem sempre está envolvida.

O tratamento da gripe aviária pode envolver o medicamento antiviral usado para a gripe humana oseltamivir, conhecido pelo nome comercial Tamiflu. Quando usado, ele é tomado por via oral duas vezes ao dia por cinco dias, nos casos de pacientes que não estão doentes o suficiente para serem hospitalizados.

Já os que precisam ser internados podem utilizar o remédio por mais de cinco dias, segundo os CDC, de acordo com a devida avaliação médica da gravidade do caso.

6. A vacina contra a gripe protege contra a gripe aviária?

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Flávia Bravo explica que as doses contra a gripe humana disponíveis hoje nos postos de saúde não são eficazes contra a versão aviária:

— A versão do vírus influenza não é a mesma. As cepas da gripe aviária ainda são muito restritas às aves e têm diferenças para a da influenza humana, que é o alvo da vacina.

7. Existem vacinas para a gripe aviária?

Existem algumas vacinas antigas aprovadas para uso em caso de emergência e outras em desenvolvimento. Nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA) já aprovou três imunizantes destinados à cepa H5N1 da gripe aviária desde 2007. As doses foram criadas por farmacêuticas que também produzem a vacina contra a gripe humana: CSL Seqirus, GSK e Sanofi.

Elas não podem ser comercializadas para o público geral, apenas adquiridas pelo governo para o estoque no caso de um surto. Há ainda novas doses em desenvolvimento, como uma pela Moderna de RNA mensageiro, a mesma tecnologia utilizada na dose para a Covid-19.

Países como EUA e as nações da União Europeia estão mais avançados na criação de estoques para caso o vírus provoque uma pandemia humana. Mas a Finlândia foi o primeiro país a de fato oferecer a dose à população, ainda em junho do ano passado, quando passou a imunizar trabalhadores que têm contato com animais.

No Brasil, nenhuma dose tem aprovação da Anvisa, mas, em abril do ano passado, a agência criou regras para o registro e atualização de vacinas pré-pandêmicas contra a gripe aviária. Segundo a norma, as empresas podem protocolar o registro de doses que apenas precisem ser atualizadas na hora de uma eventual emergência sanitária.

Neste ano, o Ministério da Saúde anunciou uma parceria com o Instituto Butantan para a fabricação e o acesso a uma vacina contra a gripe aviária para humanos em desenvolvimento na instituição paulista. De acordo com a pasta, a capacidade produtiva será superior a 30 milhões de doses anuais, o que poderá permitir a criação de um estoque estratégico para o caso de um surto.

A dose começou a ser desenvolvida ainda no começo de 2023 e já foram conduzidos os testes pré-clínicos (em laboratório com animais). No início de julho, o instituto recebeu a liberação da Anvisa para iniciar os estudos clínicos com humanos.

— Quando acontecer a transmissão entre humanos e de forma sustentada teremos um problema grande, como foi com o surto de H1N1, que ficou conhecido como gripe suína. Quando isso acontece, temos o risco de pandemia porque é um vírus novo para a população, não temos um arsenal imunológico para brigar com ele. Por isso, existem essas estratégias para bloquear com rapidez o vírus caso isso aconteça — afirma Flávia, da SBIm.

9. A gripe aviária infecta outros animais?

Uma preocupação sobre o momento atual da gripe aviária é que, desde 2022, uma versão do patógeno chamada de H5N1, identificada pela primeira vez ainda em 1996, tem ganhado tração e chegado a novas espécies de mamíferos, como leões-marinhos na América do Sul, furões na Europa e gado leiteiro nos Estados Unidos.

Nos EUA, principal ponto de atenção hoje, o patógeno infectou vacas leiteiras pela primeira vez em março do ano passado e já afetou mais de mil rebanhos pelo país. Além disso, os EUA acumulam dezenas de casos em humanos, a maioria deles em trabalhadores rurais expostos ao gado, e uma morte.

Um estudo publicado na revista Science, conduzido pelo Departamento de Agricultura dos EUA, concluiu que o surto entre o gado começou depois de um único evento de transmissão de uma ave selvagem que contaminou um boi ou uma vaca no Texas em meados de 2023.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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