Um estudo pan-europeu liderado por investigadores da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, revela que os resíduos de pesticidas estão disseminados no ambiente e até dentro das casas de agricultores. A investigação, publicada na revista Environment International, analisou 625 amostras recolhidas durante a época de crescimento de 2021, abrangendo solos, culturas, água, sedimentos, ar exterior e poeiras domésticas em dez países europeus.

Os resultados são alarmantes. Cerca de 86% das amostras apresentaram pelo menos um resíduo de pesticida acima do limite de deteção, sendo que 76% continham misturas de diferentes substâncias. “Este estudo demonstra de forma inequívoca a ubiquidade dos pesticidas, mesmo em locais onde a sua utilização é supostamente limitada, como em explorações agrícolas biológicas”, afirmam os autores.

Entre os 209 pesticidas analisados destaca-se a presença generalizada de compostos não aprovados pela União Europeia (UE), que representaram uma fatia significativa do total encontrado, inclusive em amostras de culturas biológicas. A substância mais omnipresente foi o glifosato, que surgiu em nove das dez matrizes ambientais estudadas e lidera a preocupação tanto para a saúde humana como para os ecossistemas.

As poeiras domésticas revelaram-se particularmente contaminadas: 197 pesticidas foram detetados neste meio, com concentrações elevadas. “Todas as amostras recolhidas nas habitações de agricultores, tanto convencionais como biológicos, apresentaram múltiplos resíduos”, refere o estudo. O contacto diário com estas poeiras levanta sérias preocupações quanto à exposição crónica de trabalhadores agrícolas e das respetivas famílias.

Nos solos, foram encontrados 100 resíduos diferentes, com as amostras de agricultura convencional a apresentarem concentrações totais até oito vezes superiores às dos solos biológicos. Curiosamente, mesmo em explorações orgânicas, foram detetados pesticidas proibidos há décadas, que aponta para a persistência de contaminantes históricos.

Os autores propõem um novo indicador de priorização de pesticidas (PPI), que combina frequência de deteção, concentração e perigosidade toxicológica para humanos e organismos não-alvo. Este índice permite identificar as substâncias de maior preocupação.

A investigação alerta ainda para graves lacunas de dados. “Encontrámos frequentes classificações de ‘dados não disponíveis’ nos perfis toxicológicos, sobretudo em compostos fora do mercado”, sublinham. Segundo os autores, isto impede uma avaliação completa dos riscos e reforça a necessidade de sistemas de monitorização harmonizados na UE.

Embora a Estratégia do Prado ao Prato, da Comissão Europeia, estabeleça a meta de reduzir em 50% o uso e risco de pesticidas até 2030, os investigadores advertem que os atuais indicadores oficiais, baseados sobretudo em vendas, não refletem adequadamente a exposição real. “É crucial adotar abordagens que considerem misturas de pesticidas no ambiente”, defendem.

Este estudo reforça a urgência de políticas públicas mais eficazes na gestão e regulação dos pesticidas, com base em dados científicos robustos. Os autores sugerem que os resultados sirvam de guia para decisões regulamentares mais específicas e para a definição de áreas prioritárias de investigação. “A contaminação generalizada documentada neste estudo deve ser um alerta claro para todos os que trabalham por uma agricultura mais sustentável e segura”, avisam.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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