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A Universidade Federal Fluminense (UFF) conduziu uma pesquisa para avaliar a presença de mercúrio em peixes da Baía de Guanabara e o risco à saúde dos pescadores e identificou níveis de mercúrio total (HgT) em peixes da região. A pesquisa analisou oito espécies de pescado e revelou diferenças significativas nos níveis de contaminação. Os dados mostraram que o robalo foi o tipo que apresentou o maior nível de mercúrio e a sardinha verdadeira, o menor.

O estudo analisou diversas espécies de peixes, como sardinha, robalo, corvina e tainha, identificando diferentes níveis de contaminação por mercúrio. Além da análise dos peixes, a pesquisa também avaliou a exposição direta das comunidades de pescadores ao mercúrio. Os resultados indicaram que alguns participantes apresentavam níveis de mercúrio acima do limite recomendado pela ONU, sugerindo uma exposição crônica possivelmente relacionada ao consumo frequente de peixe. A pesquisa foi realizada em colônias de pesca em Magé, Itaboraí e Ilha do Governador, revelando diferentes níveis de exposição entre as comunidades.

 

Peixes utilizados na pesquisa. Foto: Arquivo Pessoal

Com a crescente presença de indústrias na costa, a expressiva quantidade de embarcações que trabalham offshore, bem como os resíduos industriais e domésticos, a liberação de substâncias tóxicas na água tem sido uma realidade que afeta diretamente os peixes e, consequentemente, a população da região. Dentre esses elementos, o mercúrio tem se destacado pela alta toxicidade, altos níveis de absorção e baixas taxas de excreção.

A exposição das comunidades

A pesquisa também avaliou a exposição direta das comunidades de pescadores por meio de amostras de cabelo humano – uma metodologia considerada eficaz para identificar a contaminação crônica por mercúrio. Os valores encontrados não são exorbitantes, mas ainda assim preocupantes. Para a análise, feita com grupos voluntários, foi usada a referência internacional recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelece como seguros níveis entre 1 e 2 mg/kg de mercúrio no cabelo. “No nosso recorte, observamos variações entre 0,12 mg/kg e 3,5 mg/kg. Isso significa que tivemos voluntários com resultados acima do limite previsto, o que indica maior exposição possivelmente relacionada ao consumo frequente de peixe”, afirma Eliane Mársico, professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFF, que atuou como orientadora da pesquisa feita como dissertação de mestrado do aluno Bruno Soares Toledo.

 

Coleta de amostras de cabelo. Foto: Arquivo Pessoal.

As amostras foram coletadas em três colônias de pesca: Ilha do Governador, Magé e Itaboraí. A equipe aplicou questionários socioeconômicos, conversou com moradores e realizou a coleta com base em um protocolo aprovado pelo Comitê de Ética. Os dados mostraram três realidades distintas dentro de um mesmo estuário. A maior concentração foi na Ilha do Governador, seguida por Magé e, depois, Itaboraí. Essa diferença pode estar relacionada tanto às espécies mais manuseadas quanto à frequência do consumo, já que, para muitos moradores, o peixe é a principal e mais acessível fonte de proteína.

Para a professora, a relevância do estudo se mostra justamente a partir do caráter silencioso da contaminação. “Se está no peixe, estará na população. São doenças silenciosas, que as pessoas não percebem, e que os efeitos só vão aparecer a longo prazo. Por isso é vital que as informações encontradas sejam divulgadas para que os consumidores se previnam com medidas possíveis, principalmente entre as colônias de pescadores que vivem na Baía e têm o peixe como principal fonte de proteína.”

“Entender como está a Baía hoje e avaliar as espécies mais consumidas e as concentrações de mercúrio nelas é algo crucial para proteger a população que vive ao seu redor e consome muito mais pescado do que a média e, por isso, está mais exposta”, conta Bruno.

 

Identificação e análise prévia das amostras e dados coletados no Navio Escola “Ciências do Mar III”. Foto: Arquivo Pessoal.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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