Investidores em opções estão cada vez mais nervosos com a possibilidade de uma queda nas ações de tecnologia nas próximas semanas e estão comprando seguros para se proteger de um colapso.
O índice Nasdaq 100, fortemente concentrado em tecnologia, subiu quase 40% desde a forte queda em abril, desencadeada pelas tarifas generalizadas do presidente Donald Trump. A recuperação foi impulsionada principalmente pelas gigantes do setor, com o índice Bloomberg Magnificent 7 — que inclui empresas como Nvidia, Meta e Microsoft — avançando quase 50% desde o piso de 8 de abril.
A preocupação, no entanto, é que esses ganhos estejam mascarando fragilidades que ainda pairam sob a superfície do mercado. E há gatilhos potenciais para uma correção no curto prazo, desde o simpósio de Jackson Hole do Federal Reserve, que começa em poucos dias, até a divulgação dos resultados da Nvidia na próxima semana.
Segundo Jeff Jacobson, chefe de estratégia de derivativos do 22V Research Group, os traders estão “menos preocupados” com uma correção normal e mais com uma repetição do colapso de abril — ainda que ele acredite em uma queda mais branda.
Ele afirma que investidores estão comprando “puts de desastre” no ETF Invesco QQQ Trust Series 1, que acompanha o Nasdaq 100. Opções de venda (puts) dão ao investidor o direito de vender um ativo a um preço predeterminado e são populares como proteção contra quedas. Uma medida que mostra a diferença de custo entre proteger-se contra uma queda brusca ou uma moderada está no maior nível em quase três anos, disse Jacobson.
O temor de uma bolha também cresce, já que as ações de tecnologia seguem um padrão “surpreendentemente semelhante” ao da bolha das pontocom no fim dos anos 1990, escreveu Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Management, em nota a clientes. Michael Hartnett, estrategista-chefe do Bank of America Corp., vem alertando para uma bolha em ativos de risco desde dezembro e prevê queda das ações americanas após o simpósio de Jackson Hole, que termina na sexta-feira.
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Riscos em série
“O mercado teve uma disparada muito forte”, disse Jacobson. “Uma infinidade de fatores” pode levar as big techs a desabar.
Entre os riscos estão preocupações sobre o impacto da inteligência artificial em empresas de software — o que já derrubou as ações da Salesforce Inc. em 27% este ano. Além disso, a alta das “Magnificent 7” pode perder força se a inflação, impulsionada por tarifas, obrigar o Fed a desacelerar cortes de juros já precificados pelo mercado.
“Pode haver uma rotação saindo dessas gigantes para outras áreas que ficaram para trás”, afirmou Jacobson. “Pode ser um movimento de ‘venda no fato’ com os resultados da Nvidia nas próximas semanas. Também pode haver uma reação negativa ao simpósio de Jackson Hole.”
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O prêmio elevado das opções indica que os traders estão se protegendo contra uma repetição do pânico de abril, disse Jacobson, que considera esse receio exagerado. Ele lembrou que, embora o Nasdaq 100 tenha caído mais de 20% entre 9 de fevereiro e 8 de abril, esse tipo de movimento é extremamente incomum. Nos últimos 18 meses, a queda média do índice foi de cerca de 12,5%.
Para apostar em uma correção, Jacobson sugere operações como a compra de put ratio spread, em que o custo da proteção contra uma queda moderada é parcialmente financiado pela venda de proteção contra um colapso mais profundo, como o de abril.
Especificamente, ele recomenda a compra de opções de venda de US$ 570 em QQQ, com vencimento em 17 de outubro, financiadas pela venda do dobro de puts de US$ 515 no mesmo ETF. A estratégia renderia lucro se o índice cair entre 2% e 11%, disse ele. O nível de US$ 515 corresponde à média móvel de 200 dias do fundo, que, segundo Jacobson, deve atuar como suporte em caso de recuo.
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Nem todos em Wall Street concordam com a ideia de apostar contra o índice de melhor desempenho entre os grandes benchmarks dos EUA na última década. Os estrategistas de ativos cruzados do JPMorgan Chase & Co., por exemplo, sugerem vender o índice Russell 2000, de small caps, e manter posição comprada no Nasdaq 100.
Jacobson, porém, segue mais pessimista em relação ao futuro imediato das big techs.
“Claramente, há essa possibilidade, certo?”, disse ele retoricamente. “A concentração está muito forte nesses nomes. Não seria preciso muito para virar.”
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©️2025 Bloomberg L.P.