O corpo de Bruno Rodrigues Ventura dos Santos, de 29 anos, foi sepultado no início da tarde desta quarta-feira (10) no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana do Rio. Ele morreu na segunda-feira (8), após passar 18 dias em coma na UTI, contaminado com um ácido usado para limpeza de máquinas durante uma sessão de hemodiálise em São Gonçalo.
O erro ocorreu em 20 de agosto, na clínica particular Nice Diálise, conveniada ao SUS, no bairro São Miguel.
“A dor é insuportável, vamos fazer justiça por você”, desabafou Vitória Rodrigues, irmã da vítima, nas redes sociais.
Durante a cerimônia, familiares e amigos se emocionaram e reforçaram os pedidos por justiça. O rapaz trabalhava como entregador e sonhava em viajar de moto até a Argentina.
De acordo com relatos da família, ele havia iniciado o procedimento de hemodiálise normalmente, mas minutos depois perceberam uma movimentação incomum dentro da unidade. Pouco depois, foram informados sobre a contaminação.
“A minha mãe disse que às 7h começou a perceber uma correria na clínica. Então, mandou mensagem para meu irmão, perguntando se estava tudo bem, mas ele não respondeu. Foi quando começou a perceber que poderia ser com ele”, contou a irmã da vítima, Vitória Rodrigues, ao Agenda do Poder.
Contaminação com produto químico
A direção técnica da clínica admitiu à família que houve contaminação por ácido peracético, substância utilizada na esterilização de equipamentos médicos.
O resíduo não foi retirado da máquina de hemodiálise e acabou entrando diretamente na corrente sanguínea do paciente. Desde então, Bruno permaneceu entubado, em coma induzido até não resistir às complicações.
Investigações
O médico da clínica relatou à família que Bruno deveria estar sob cuidados de uma enfermeira fixa, mas naquele dia outra profissional assumiu o procedimento. Ela que teria ligado o paciente à máquina.
O caso foi registrado como lesão corporal na 72ª DP (Mutuá), no entanto, após a morte, passou a ser investigado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. “Os agentes ouviram testemunhas e realizam outras diligências. O inquérito está em fase final”, informou a Polícia Civil.
Fiscalização
A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo (Semsadc) informou que o estabelecimento é credenciada para atendimentos de alta complexidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e havia convênio com a cidade até o fim de abril deste ano.
“A fiscalização dos serviços prestados cabe à Vigilância Sanitária Estadual, que foi notificada sobre o ocorrido pela Secretaria Municipal de Saúde de São Gonçalo e deverá tomar as devidas providências”, diz a nota.
Já a Secretaria de Estado de Saúde, por meio da Superintendência de Vigilância Sanitária, disse que realizou inspeção no local e constatou que a unidade possuía licença sanitária válida para funcionamento.
“A Secretaria de Estado de Saúde determinou que a clínica apresente um cronograma de melhorias em seus processos de trabalho e de capacitação da equipe, a fim de garantir maior segurança no atendimento aos pacientes. Além disso, a SES está realizando a transferência dos pacientes que eram atendidos na clínica para unidades de referência na região para garantir a continuidade do tratamento”, informou.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) disse que abriu sindicância para apurar os fatos. O diretor técnico do estabelecimento está com o registro médico ativo.
O Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren) está acompanhando o caso de perto e informou que tomou as medidas cabíveis dentro de sua competência, apurando se houve falha na assistência de enfermagem ou em processos relacionados à prática profissional.
“Caso seja constatada qualquer infração ética, as responsabilidades serão apuradas com a devida seriedade”, afirmou.
A reportagem tenta contato com a clínica, o espaço segue aberto para eventuais manifestações.