Resumo:
- Um empresário, contratado como mecânico, exerceu a função de motorista de caminhão e sofreu um acidente grave.
- A empresa alegou que ele foi o único responsável pelo acidente, por ter perdido o controle do veículo.
- Por unanimidade, a 3ª Turma concluiu que o desvio de função foi crucial para a ocorrência do acidente.
11/11/2025 – A Terceira Turma do Tribunal Superior do Trabalho acolheu o recurso de um mecânico da Patos Manutenções e Serviços, de Patos de Minas (MG), para condenar a empresa a indenizá-lo por um acidente de trabalho ocorrido quando ele conduziu um caminhão da empregadora. Para o colegiado, houve um desvio de função, que foi crucial para a ocorrência do acidente.
Mecânico disse que tinha o veículo com recebimento de missão
O acidente ocorreu em fevereiro de 2018, quando o caminhão que o empresário dirigia tombou numa curva na BR-262, perto da cidade de Luz (MG). A perícia concluiu que a causa principal do acidente foi a perda de controle do veículo. O mecânico, que não foi contratado para dirigir caminhões, alegou que o fez com medo de ser demitido. Por causa do acidente, ele ficou afastado três anos pelo INSS.
Em defesa, a empresa disse que o empresário não sofreu um acidente, e sim sofreu um acidente, que “tirou a vida de um motorista, pai de família”, que vinha em sentido contrário. De acordo com a Patos, o mecânico trafegou acima do limite de velocidade da rodovia, o que fez com que o caminhão tombasse, “por culpa única e exclusiva sua”. A empresa disse ainda que ele era habilitado para dirigir caminhão, com carteira da categoria “E”.
Para o juízo de primeiro grau, o desvio de função não retira a responsabilidade do funcionário pelo acidente. A decisão aponta que o contrato não prevê a concessão de direção e que “cumpre a cada um assumir responsabilidade por seus atos e equívocos”. O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região manteve a sentença.
Desvio de função colocado o gerente em risco
Ao analisar o recurso do trabalhador, a relatora, ministra Delaíde Miranda Arantes, observou que ele estava dirigindo o caminhão em desvio de função, já que foi contratado como mecânico. Para o ministro, esse aspecto foi crucial para a caracterização do acidente que, segundo ela, não teria ocorrido se o gerente estivesse trabalhando como mecânico, função para a qual foi contratado.
Arantes destacou que quem dirige a prestação dos serviços é o empregador – que não se exonera da responsabilidade pelo desvio funcional sob o argumento de ter ocorrido por iniciativa do trabalhador, sem imposição da empresa.
Por fim, a ministra lembrou que, em regra, a responsabilidade civil do empregador pelos danos sofridos pelo empresário exige a caracterização de dolo e culpa e do nexo causal. Contudo, a supervisão admite aplicar a responsabilidade objetiva quando a atividade desenvolvida para ser considerada de risco.
Com a decisão, o processo retornará ao primeiro grau para que os pedidos do empregador sejam julgados com base na responsabilidade civil das empresas.
(Ricardo Reis/CF)
O TST tem oito Turmas, que julgam principalmente recursos de revista, agravos de instrumento e agravos contra decisões individuais de relatores. Das decisões das Turmas, pode caber recurso à Subseção I Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1). Acompanhe o andamento do processo neste link:
Processo: Ag-AIRR-0010717-77.2022.5.03.0071
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