Aliando política pública à ciência, Brasil elimina transmissão de mãe para bebê, e número de mortes cai; É preciso expandir testagens para reduzir contaminações; estima-se que cerca de 100 mil pessoas vivam com HIV no no país sem saber
Apesar dos desafios, o Brasil avança no combate ao HIV, comprovando o papel crucial de políticas públicas baseadas em evidências.
Segundo o Ministério da Saúde, o país eliminou a transmissão vertical do vírus, da mãe para o bebê, cuja taxa ficou abaixo de 2% em 2024. Ademais, pela primeira vez em 30 anos, o número de óbitos por Aids foi inferior a 10 mil (9.157 em 2024), com queda de 13% ante 2023.
É possível reduzir ainda mais as mortes, já que a piora da doença é evitável com diagnóstico ágil e continuidade no tratamento.
O Brasil adota a chamada Prevenção Combinada, uma série de estratégias para diminuir os riscos de infecção que inclui a distribuição de preservativos e também ferramentas mais recentes disponíveis no SUS, como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição (PEP), com eficácia comprovada antes e depois de contato com ao vírus.
Os casos de Aids (estágio avançado da infecção) caíram 1,5% entre 2023 e 2024, passando de 37,5 mil para 36,9 mil. Já o número de contaminações teve leve alta de 38,2 mil a 39,2 no período, em especial entre homens de 20 a 29 anos, o que pode ser explicado em parte por maior testagem, que precisa ser ampliada.
Estima-se que cerca de 100 mil pessoas vivam com HIV no Brasil sem saber, o que demanda mais ações de conscientização sobre a importância dos testes e do tratamento no estágio inicial, direcionada principalmente aos estratos que têm menos acesso à saúde sexual. Idosos, por exemplo, têm registrado números preocupantes de infecções.
Avanços na medicina e nas políticas públicas mudaram por completo a qualidade de vida dos portadores de HIV nas últimas décadas. A terapia antirretroviral, por meio de medicação diária disponibilizada pelo SUS, faz com que a carga viral chegue ao ponto de se tornar indetectável e, portanto, intransmissível.
E novas formas de combate à doença estão no horizonte. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou na semana passada que o país pretende produzir lenacapavir, um medicamento injetável de prevenção contra o HIV lançado neste ano.
Estudo internacional publicado na revista científica Lancet em julho projeta que o custo do remédio comercializado pela farmacêutica Gilead pode cair de US$ 25,3 mil (R$ 136 mil) por pessoa ao ano para US$ 25 (R$ 135) na sua versão genérica.
As últimas décadas de ações contra a Aids mostram que, quando se aliam à ciência, políticas públicas geram resultados eficazes.
