A mídia internacional e vários órgãos de análise descrevem o atual momento da economia mundial como uma economia “teflon”. Esse termo é usado para apresentar economias que parecem resistir a choques – como crises políticas, crises externos ou turbulências financeiras – sem grandes efeitos negativos sobre o crescimento.
A despeito da inflação persistente, tensões comerciais e a retração do crescimento, a economia global tem se mostrado surpreendentemente resiliente diante de múltiplos choques. Mas, o “teflon” está se desgastando paulatinamente.
Embora sejam vistos indicadores que ainda sinalizam crescimento moderado, há sinais crescentes de que os amortecedores econômicos contra novos choques estão se estreitando – os bancos centrais têm menos espaço para manobra e as políticas fiscais dos países já estão pressionadas. As tensões comerciais e movimentos nacionalistas trazidas pelo governo americano trazem muitas incertezas geopolíticas, isso afeta a confiança dos investidores e traz risco de desaceleração mais aguda do crescimento global.
O Banco Mundial projeta crescimento mundial de apenas 2,3 % em 2025 – o menor patamar desde 2008 no período que não envolveu recessão. Apesar do crescimento recente (“sugar rush”) – que foi impulsionado por antecipação de compras e pausas temporárias em tarifas, estímulos de curto prazo que, se não forem acompanhado por reformas estruturais – este impulso está fadado a se esgotar.

Cenário que faz com que dificilmente o Brasil resista a tarifas de 50% sem consequências severas Foto: André Dusek/Estadão
No caso brasileiro, o “teflon” está ainda mais desgastado, tivemos um crescimento acima das expectativas em 2023 e 2024, sustentado pelo agronegócio, commodities e consumo interno, mercado de trabalho aquecido, balança comercial positiva e reservas internacionais confortáveis.
Mas, temos déficit fiscal crônico, dívida pública crescente (já em 78% do PIB), baixa produtividade, juro real muito alto, além de incertezas políticas e cenário tributário e regulatório instável que prejudicam investimentos de longo prazo. Cenário que faz com que dificilmente o Brasil resista a tarifas de 50% sem consequências severas.
O “teflon” brasileiro, assim, seria claramente insuficiente. Para termos o fortalecimento econômico teríamos que contar com coordenação macroeconômica multilateral. No cenário atual, com líderes como Trump, falar numa ampla coordenação global, embora soe inocente, seria algo racional e necessário.
Talvez nosso “teflon” ainda resista um pouco mais, mas convenhamos que depender da imprevisibilidade de Trump para testar nossa resiliência é como fazer ovos mexidos numa frigideira riscada — pode até não grudar desta vez, mas o risco de desastre é sempre alto.