Fazer compras no supermercado é uma tarefa rotineira para a maioria das pessoas. No entanto, em épocas de maior incidência de doenças infeciosas, como a gripe ou surtos de norovírus, esta atividade pode aumentar a exposição a superfícies de alto contacto e bactérias potencialmente perigosas.
Especialistas em saúde pública e microbiologia identificaram os locais com mais germes nos supermercados e deram recomendações sobre como minimizar os riscos e manter-se protegido.
Ecrãs táteis e terminais de pagamento: um foco de germes
Os terminais de pagamento automático (TPA) e os ecrãs táteis das caixas de pagamento são dos locais mais contaminados nos supermercados. O microbiologista Jason Tetro, conhecido como “The Germ Guy”, explica que “a chave para a transferência de micróbios é a pressão. Se algo for tocado com força suficiente, os micróbios ficarão para trás”. Por isso, o PIN pad dos terminais de pagamento é um dos pontos mais contaminados.
Kelly Reynolds, professora e presidente do Departamento de Comunidade, Ambiente e Política da Universidade do Arizona, reforça que “os ecrãs táteis e teclados são frequentemente tocados, mas raramente desinfetados”. O mesmo se aplica aos leitores de código de barras e terminais de pagamento automático das caixas de self-checkout.
Para reduzir o risco, a especialista aconselha a evitar o contacto direto sempre que possível e a optar por pagamentos sem contacto, como cartões contactless ou pagamentos móveis.
Carrinhos e cestos de compras: bactérias à espera
Os carrinhos e cestos de compras são outro local de elevada contaminação. Jagdish Khubchandani, professor de saúde pública na Universidade Estadual do Novo México, aponta que estudos já encontraram diversas bactérias nestes objetos, incluindo Escherichia coli (E. coli) e Staphylococcus aureus, responsáveis por intoxicações alimentares.
“Os carrinhos de compras são uma fonte comum de contaminação porque são empurrados e segurados com as mãos, e com mais pressão do que o PIN pad”, explica Tetro. Reynolds acrescenta que estes locais também apresentam altos níveis de contaminação fecal.
A melhor forma de minimizar o risco é limpar os carrinhos e cestos com toalhitas desinfetantes antes de os usar e evitar colocar alimentos diretamente no cesto sem um saco de proteção. Além disso, os assentos para bebés podem entrar em contacto com fraldas sujas, tornando-os ainda mais propensos a acumular germes.
Portas dos frigoríficos e congeladores: um perigo esquecido
Outro ponto frequentemente negligenciado são as portas dos frigoríficos e congeladores. “As pegas são verdadeiros refúgios para micróbios, pois é necessário aplicar pressão para abrir as portas”, alerta Tetro.
Khubchandani destaca ainda que estas portas são menos limpas do que outras superfícies no supermercado. Para evitar o contacto com as zonas mais contaminadas, recomenda tocar na extremidade inferior ou lateral das pegas, em vez da parte central mais frequentemente usada.
Secção de produtos a granel: cuidado com os dispensadores
Os alimentos vendidos a granel, como frutos secos, sementes, especiarias e doces, também podem representar um risco. Reynolds explica que “as colheres e alavancas dos dispensadores são frequentemente contaminadas por mãos que podem não estar limpas”.
Carol McLay, especialista em controlo de infeções, aconselha a usar desinfetante para as mãos antes e depois de tocar nestes utensílios e, sempre que possível, segurar nas colheres com um guardanapo ou limpar a alça com uma toalhita desinfetante antes de a utilizar.
Frutas e legumes: origem desconhecida, riscos invisíveis
A secção de frutas e legumes pode parecer inofensiva, mas também é um local propício para a presença de bactérias. “Os produtos agrícolas podem ter vindo diretamente do campo sem terem sido lavados e, dependendo da origem, podem ter sido pulverizados com fertilizantes que contêm bactérias coliformes”, explica McLay.
Além disso, os recipientes onde os produtos são armazenados raramente são limpos, e muitos clientes tocam nos mesmos itens antes de fazerem a sua escolha.
A recomendação dos especialistas é selecionar cuidadosamente os produtos, evitar os que tenham rachaduras ou buracos que possam permitir a entrada de germes e colocá-los em sacos antes de os colocar no carrinho. Em casa, deve-se lavar bem frutas e legumes com água corrente e, se necessário, usar uma escova própria para remover resíduos da superfície. Para uma limpeza mais eficaz, pode-se mergulhar os produtos em água com bicarbonato de sódio para reduzir resíduos de pesticidas.
Casas de banho dos supermercados: um risco evitável
Caso seja possível, deve-se evitar usar as casas de banho dos supermercados. “São locais que podem não ser desinfetados com frequência suficiente, especialmente os puxadores das portas”, alerta Khubchandani.
Se for necessário utilizá-las, McLay recomenda usar um papel para abrir e fechar a porta e lavar bem as mãos depois.
Sacos reutilizáveis: limpeza muitas vezes esquecida
Embora os sacos reutilizáveis sejam uma opção mais ecológica, podem acumular bactérias de compras anteriores devido a derrames de alimentos e ao uso repetido sem lavagem. Reynolds menciona que “estudos mostram que 97% das pessoas nunca lavaram os seus sacos reutilizáveis”.
McLay recomenda desinfetar os sacos após cada uso. Dependendo do material, podem ser lavados na máquina com água quente e detergente ou limpos com um spray desinfetante.
Balcões de charcutaria: atenção à contaminação cruzada
Os balcões da charcutaria e talhos podem ser outro ponto de risco. McLay chama a atenção para a superfície de vidro, que é constantemente tocada por clientes, incluindo crianças que pressionam as mãos e rostos contra ela.
Além disso, há um risco acrescido de contaminação cruzada devido ao contacto com carnes cruas. A especialista aconselha a garantir que os produtos de charcutaria são devidamente embalados e a separar carnes cruas de outros alimentos no carrinho e na mala do carro.
Tapetes das caixas de pagamento: sujidade acumulada
Os tapetes rolantes onde os produtos são colocados na caixa são outro foco de germes. Kia Parker, especialista em controlo de infeções no Centro Médico Wexner da Universidade Estadual de Ohio, explica que “estes tapetes podem conter germes devido a derrames e ao contacto com diferentes alimentos e objetos”.
McLay acrescenta que “o plástico do tapete é muito poroso e raramente é limpo, o que o torna um ambiente propício para bactérias”. Para evitar contaminação, deve-se evitar tocar no tapete e colocar os alimentos diretamente nos sacos assim que possível.
Como se proteger durante as compras
De acordo com Tetro, “os supermercados são como ginásios, aviões e serviços de urgência: sabemos onde estão os pontos mais contaminados, mas não conhecemos o estado de higiene das pessoas que tocaram neles antes de nós”. Assim, é essencial adotar boas práticas de higiene.
Entre as recomendações dos especialistas estão:
- Usar toalhitas desinfetantes para limpar o carrinho de compras antes de começar;
- Utilizar desinfetante para as mãos depois de tocar em superfícies de alto contacto;
- Evitar tocar no rosto durante as compras;
- Optar por fazer compras fora dos horários de maior afluência para reduzir o contacto com multidões e superfícies frequentemente tocadas;
- Lavar bem as mãos antes e depois de ir ao supermercado;
- Limpar e desinfetar regularmente os sacos reutilizáveis.
“A regra de ouro é minimizar o contacto com superfícies comuns e garantir que higienizamos as mãos corretamente”, conclui Tetro. Com estas medidas, é possível reduzir significativamente o risco de exposição a germes durante as compras no supermercado.