Corria o ano de 1992, um ano marcado pela realização da Conferência do Rio, na qual se tomaram decisões estratégicas para o futuro da Terra como a conhecemos – como a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre o Clima e a Convenção da Diversidade Biológica (CBD) –, quando James Carville, responsável da campanha presidencial de Bill Clinton, imortalizou a frase “It’s the economy, stupid!”, ao tentar focar a mensagem da campanha no tema que mais interessava aos americanos à época.
Desde então que essa frase tem sofrido adaptações, algumas delas mais conhecidas do que outras, mas que no essencial têm tido como objetivo fazer uma espécie de lembrete para que se dê a atenção devida ao que é essencial. Por isso, nada melhor do que aproveitar o Dia Nacional da Conservação da Natureza para voltar a focar a atenção no que é a matéria mais importante para todos: a Conservação da Natureza e a Biodiversidade. E, neste caso, podemos mesmo complementar a chamada de atenção com uma outra expressão imortalizada pelo Papa Francisco, porque o tema interessa mesmo a todos, todos, todos!
A discussão em torno da Conservação da Natureza e da Biodiversidade tem altos e baixos, como quase todos os temas da vida, mas, independentemente da importância que lhe damos, a cada momento, a vida na Terra, e em particular a sobrevivência da espécie humana, depende direta e imediatamente da capacidade que a biodiversidade tenha de continuar a fornecer os serviços dos ecossistemas que a suportam.
Esta relação direta entre equilíbrio ecológico e qualidade de vida está, infelizmente, e cada vez mais, patente nos fenómenos climáticos extremos, na perda de solo fértil, na extinção de espécies, na contaminação da água potável, na concentração de pesticidas, outros químicos e microplásticos nos tecidos biológicos e até já no cérebro humano, apenas para referir os mais comuns e conhecidos. É esta realidade que deve motivar a ação de todos para que a Natureza seja efetivamente a prioridade. E que essa prioridade seja ativamente integrada de forma transversal em todas as políticas setoriais.
Portugal está a dar passos seguros rumo a uma verdadeira política de conservação da natureza e biodiversidade, suportando a sua atuação num património natural extraordinário e numa tradição política com décadas, mas tudo isto é apenas o início de um caminho longo e que ninguém consegue fazer sozinho.
A revisão da Estratégia Nacional para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade 2030 (ENCNB 2030), atualmente em consulta pública, é um momento-chave para isso e, hoje, quando assinalamos este dia, urge estimular a importância deste debate junto da opinião pública e dos atores económicos e sociais relevantes.
A proposta de revisão da ENCNB 2030 representa uma verdadeira resposta às novas realidades ambientais, traduzindo o contexto de emergência climática em que vivemos. Propõe-se a reorganização dos seus eixos — agora centrados na conservação e restauro, gestão territorial, valorização económica e social, e governança —, oferecendo uma estrutura mais funcional e integrada, eliminando sobreposições e alinhando-se com compromissos internacionais comuns, como o Quadro Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal.
Pôr em prática esta estratégia exige a manutenção do compromisso entre os diversos setores económicos para colocar a natureza em primeiro lugar, pois é dela que dependemos todos! As políticas setoriais podem facilmente colidir com os objetivos de conservação se não forem sujeitas a uma avaliação ambiental séria, transparente e competente. É isso que procuramos estimular, sem ceder a radicalismos, seja do lado dos que promovem um discurso de ridicularização dos aspetos ambientais, procurando a sua desvalorização, seja do lado dos que querem fazer crer que cortar uma árvore é o mesmo do que cometer um crime.
A criação do grupo de trabalho para a elaboração do Plano Nacional de Restauro da Natureza e a constituição de uma Comissão Interministerial de Coordenação abrem a possibilidade de garantir que a política de Conservação da Natureza e Biodiversidade não dá apenas bonitas publicações de papel e populares reels de Instagram ou de TikTok.
O desafio é comum e as responsabilidades são partilhadas. Não nos podemos desviar do essencial e só vamos conseguir ter sucesso se trabalharmos em conjunto, porque o problema é sério e urgente!
Vamos focar-nos em trabalhar para o resolver.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico