Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, Vanessa Maria da Silva, apontada como dona de fábrica clandestina diretamente responsável pela contaminação por metanol de pelo menos três pessoas em São Paulo, “é uma pessoa muito fria nas palavras e não mostra arrependimento”.
A declaração do delegado foi feita durante coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (17/10), sobre a conclusão da segunda fase da operação da Polícia Civil que investiga os casos de intoxicação.
Vanessa foi presa na última sexta-feira (10/10), ocasião em que a fábrica clandestina de bebidas de sua família, localizada em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, foi fechada.
“Segundo relato da doutora Isa [Isa Lea Abramavicus, da 1ª Delegacia de Polícia da Divisão de Investigações sobre Infrações contra a Saúde Pública)] e da equipe, a Vanessa é uma pessoa muito fria nas palavras. Ela não mostra arrependimento. Ela continua presa e nós estamos trazendo para o bojo das investigações muito mais materialidade”, disse Artur Dian.
A fábrica clandestina da família de Vanessa é diretamente responsável pela contaminação de Ricardo Mira e Marcos Antônio Jorge Junior, os dois primeiros óbitos confirmados por contaminação de metanol no Brasil, que ingeriram bebida contaminada no Torres Bar, na Mooca, zona leste da capital, e de um rapaz que está cego e segue internado na UTI. Ele bebeu o conteúdo de uma garrafa adulterada num bar chamado Nova Europa, no Planalto Paulista, na zona sul da cidade.
“Família metanol”
De acordo com a polícia, Vanessa e seus familiares compravam etanol em dois postos de combustíveis para adulterar as bebidas alcoólicas que vendiam. O marido dela, inclusive, é apontado como uma “pessoa conhecida” no ramo de falsificação de bebidas.
Os postos estão localizados em Santo André e São Bernardo do Campo. Segundo as investigações, eles não pertencem à mesma rede e não foram alvo da Carbono Oculto, operação da Polícia Federal (PF) que revelou um esquema de adulteração de combustíveis com metanol. Para a polícia de São Paulo, não há evidências de participação do crime organizado nos casos de intoxicação no estado.
Número de intoxicações por metanol
- Foram registrados 82 casos de intoxicação no total, sendo 38 confirmados e 44 em investigação. Foram descartados 369 casos.
- Há seis mortes confirmadas (três homens de 54, 46 e 45 anos), residentes na cidade de São Paulo, uma mulher de 30 anos de São Bernardo do Campo, um homem de Osasco de 23 anos, e um de Jundiaí de 37 anos.
- Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (17/10) pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-SP).
O marido e o pai de Vanessa já têm antecedentes criminais relacionados à falsificação de bebidas. Apesar disso, a mulher é a única presa na operação que começou no dia 10 de outubro e terminou nesta sexta-feira. A família contava com a ajuda de um garrafeiro no processo – transferências bancárias obtidas pela polícia comprovam que o suspeito comprou etanol em um dos postos investigados na operação.
Três endereços do garrafeiro foram alvo de mandados de busca e apreensão, assim como dois locais ligados ao seu irmão. Além disso, pontos comerciais foram vistoriados pela polícia. Nesses lugares, houve apreensão “muitos materiais e insumos”, segundo a polícia.
A principal hipótese é de que a fábrica de Vanessa distribuiu bebida adulterada para os demais lugares que continham garrafas contaminadas. A polícia ainda busca descobrir se há relação da “família do metanol” com os outros casos confirmados em São Paulo.
A família nega que sabia que estava comprando etanol batizado com metanol. No entanto, segundo o delegado-geral, Artur Dian, ao comprar etanol para adulterar bebidas alcoólicas, o grupo assumiu o risco de matar alguém.