Capivaras de diferentes regiões da América do Sul surpreenderam pesquisadores e usuários das redes sociais ao exibirem colorações incomuns nos últimos meses. De um lado, no Pantanal e em parques de Cuiabá, o calor intenso e a seca extrema de 2024 deixaram a pelagem desses animais em tons dourados e amarelados. Já na Argentina, nesta semana, um grupo de capivaras apareceu tingido de verde por conta da proliferação de cianobactérias em um reservatório contaminado.
Os casos, apesar de distintos, refletem uma questão comum: como as mudanças ambientais severas têm afetado até mesmo a aparência da fauna local?
A cidade de Cuiabá enfrentou 160 dias sem chuvas em 2024. Em setembro e nos dois meses seguintes, voltaram fracas. As chuvas mais consistentes vieram em dezembro. No Pantanal, a situação foi semelhante, com o agravante de incêndios.
Sem sombra e água fresca, aconteceu com a pelagem das capivaras um clareamento semelhante ao que ocorre com cabelos humanos sob exposição prolongada à radiação ultravioleta do Sol.
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Os raios UV degradam a melanina, pigmento protetor que existe na pele e nos pelos. A cor e a proteção diminuem à medida que a melanina é degradada. E as capivaras acabaram louras, no tom dos extremos climáticos.
No caso das capivaras argentinas, uma série de imagens causou surpresa e preocupação entre os usuários das redes sociais: nelas, um grupo aparecia tingido por uma curiosa substância de cor verde, no reservatório da represa de Salto Grande, na província de Entre Ríos. O fenômeno no país vizinho está ligado à presença de cianobactérias na água que os animais bebem e na qual se banham.
O vídeo gravado por um dos turistas que estava à beira da água mostra os animais cobertos por um tom esverdeado que parece ser oleoso e estar aderido à pelagem.
Enquanto isso, o jornal local Río Uruguay informou que algumas praias ficaram “inutilizáveis” para banhistas devido à presença de cianobactérias na água, um fenômeno que afeta toda a bacia do curso d’água e que provoca a coloração esverdeada.
As cianobactérias são organismos microscópicos que contêm clorofila, o que lhes dá essa tonalidade e permite que realizem fotossíntese. Por isso, historicamente, elas são identificadas como algas de cor verde ou azulada. Além de estarem presentes em águas doces e salgadas, muitas espécies de produzem toxinas que ficam contidas nas células e podem se dissolver na água. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou as cianobactérias como um problema emergente de saúde.
Em um comunicado publicado na semana passada, a Comissão Administradora do Rio Uruguai (CARU) informou a comunidade “sobre a presença de florações de cianobactérias nas águas do rio Uruguai e seus afluentes”.
“Esse fenômeno, conhecido como ‘verdín’, costuma ocorrer durante o verão devido às altas temperaturas e pode se manifestar em diferentes corpos d’água”, afirmou a entidade.
A organização também alertou que “a proliferação de cianobactérias pode afetar as praias por horas ou dias, com possíveis impactos na saúde”. “A melhor medida de prevenção é observar atentamente a água e a areia. Se a água apresentar uma coloração esverdeada, aspecto turvo ou acúmulos de material semelhante a espuma, recomenda-se evitar o contato direto”, orientaram.
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— Sabemos que Salto Grande está com proliferação de cianobactérias, assim como outras partes do país”, informaram fontes do Ministério do Meio Ambiente ao jornal El País, do Uruguai.— As fotos são do lado argentino, pois a mídia local repercutiu o ocorrido. Até o momento, não há denúncias sobre a situação dos animais na costa uruguaia.