Documentos confidenciais revelam vulnerabilidades graves nos sistemas de guerra eletrónica do Kremlin, desafiando a imagem de invulnerabilidade militar que a Rússia tenta manter.
A defesa eletrónica russa, apresentada durante anos como uma fortaleza impenetrável no campo de batalha moderno, poderá afinal estar repleta de falhas críticas.
De acordo com o Corpo de Voluntários Russos (RDK), uma unidade paramilitar pró-ucraniana composta por cidadãos da própria Rússia, dezenas de gigabytes de dados confidenciais foram obtidos a partir dos sistemas estratégicos de guerra eletrónica do Kremlin.
Segundo o historiador e especialista em cibersegurança Chris Owen, que divulgou as informações numa publicação na plataforma X (antigo Twitter), os dados incluem documentação técnica completa: manuais de instalação, esquemas, relatórios de testes, dados operacionais e correspondência interna dos sistemas de defesa.
O que é a guerra eletrónica?
A guerra eletrónica é uma das formas mais modernas de combate, baseada na utilização do espectro eletromagnético — incluindo sinais de rádio, radar e infravermelhos — com o objetivo de perturbar, enganar ou negar ao inimigo o uso eficaz dessas tecnologias. Divide-se em três grandes áreas:
- Ataque eletrónico: interfere ou engana os sistemas do inimigo (por exemplo, neutralizando drones).
- Proteção eletrónica: defende os próprios sistemas contra interferências adversárias.
- Apoio eletrónico: recolhe e analisa sinais para reforçar o conhecimento operacional.
Um escudo com falhas estruturais
Com os exércitos modernos cada vez mais dependentes de comunicações eletrónicas e sensores, a guerra eletrónica é vital para o sucesso militar. Contudo, os documentos obtidos revelam que o sistema russo não só é frágil, como está “cheio de buracos”, devido a falhas múltiplas e vulnerabilidades técnicas.
Chris Owen explica que o RDK encontrou informações detalhadas sobre a lógica operacional e a arquitetura dos sistemas russos, permitindo identificar as cadeias de produção, os nomes dos contratantes e os responsáveis pelo design.
Não temos apenas a aparência externa. Vemos a lógica interna, a arquitetura, as ligações entre os nós. Sabemos quem o desenhou, que empresas forneceram os componentes e quais os institutos de investigação envolvidos.
Afirma o comandante Fortuna do RDK.

Dezenas de gigabytes de dados secretos sobre os sistemas estratégicos de guerra eletrónica da Rússia foram pirateados pelo Corpo de Voluntários Russos (RDK) pró-ucraniano. Segundo eles, o escudo eletrónico russo “não é apenas frágil - está cheio de buracos” devido a múltiplas falhas e vulnerabilidades
Sistemas que não resistem ao clima… nem ao combate
Entre as revelações mais embaraçosas está a vulnerabilidade de um dispositivo destinado a interferir nas comunicações navais no Ártico: não suporta vento, frio nem gelo. Em terra, o desempenho também é instável.
Owen escreve que o sistema
...é extremamente sensível à intempérie e às vibrações, requerendo uma configuração complexa e uma alimentação elétrica constante — fatores que o tornam pouco fiável em situações de combate real.
Rússia usa satélites chineses sem autorização?
Outro dado revelado pela imprensa finlandesa Verkkouutiset indica que a Rússia tem usado satélites chineses para calibrar os seus sistemas de defesa, aparentemente sem o conhecimento de Pequim.
A escassez de satélites próprios, em comparação com os EUA e a China, obrigou o Kremlin a investir somas avultadas para colmatar a lacuna. No entanto, segundo o comandante do RDK, os atuais sistemas russos estão a operar no limite da sua capacidade.
Esta fuga de informação poderá representar um revés significativo para Moscovo, uma vez que permite aos aliados ocidentais da Ucrânia desenvolver contramedidas eficazes, segundo Chris Owen.