Os medicamentos fazem parte da categoria de contaminantes emergentes, expressão dada aos produtos tóxicos que não são removidos ou eliminados pelos processos tradicionais de tratamento de água. Em uma farmácia localizada na Grande Belém, as farmacêuticas Adalgiza Véras e Ana Luiza Moraes e a dona de casa Márcia Cruz destacam a importância do descarte correto para evitar danos à saúde e ao meio ambiente.

Ana Luiza começou a prática do descarte há cerca de seis anos. “Eu trabalhava em drogaria na época, quando tivemos esse marco do descarte ser feito em drogarias. A gente começou fazendo primeiro a conscientização dos consumidores, e mesmo após não estar mais na parte de drogaria, a gente ainda faz a conscientização quando os pacientes recebem alta dentro do hospital”, conta a farmacêutica.


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Farmacêutica Ana Luiza Moraes (Foto: Igor Mota | O Liberal)

Nos hospitais, a orientação é feita quando o paciente tem alta farmacêutica. Os profissionais orientam ainda na compra dos medicamentos como fazer a devolução nos locais corretos, devido o risco biológico, segundo Ana.

O descarte incorreto, no lixo doméstico ou no vaso sanitário, por exemplo, pode trazer consequências graves para o meio ambiente e também para a saúde humana. No Pará, o descarte correto é assegurado pela Lei nº 9.898, de 28/04/2023, que obriga farmácias e drogarias a receberem os materiais e destiná-los corretamente.

Todos os estabelecimentos da área no estado devem contar com o descartômetro, um dispensador contentor, que facilita o acesso por parte dos consumidores, permitindo a destinação correta de medicamentos vencidos e em desuso, o que evita a contaminação do meio ambiente.

“Os antibióticos, por exemplo, às vezes são dispensados com uma quantidade a mais e o paciente não pode utilizar, porque tem que usar de acordo com o que o médico prescreveu. O paciente fica em dúvida do que pode fazer com o restante, então podem trazer para a gente [farmacêuticos], que nós mandamos para a incineração, para que eles não possam contaminar o meio ambiente”, explica a farmacêutica Adalgiza Véras.


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Farmacêutica Adalgiza Véras (Foto: Igor Mota | O Liberal)

De acordo com Emanuele Duarte, professora da Faculdade de Química da Universidade Federal do Pará (UFPA), existem diversos impactos documentados na literatura científica sobre a contaminação do ecossistema por medicamentos. “Pode resultar no desenvolvimento de bactérias resistentes, feminização de peixes, alteração no desenvolvimento de algas ou de comunidades microbianas do solo, entre outros”, afirma.

A extensão da contaminação depende do tipo do medicamento, toxicidade e reatividade. Em alguns casos, podem ser convertidos para compostos com maior efeito para o ecossistema e até bioacumulados ao longo da cadeia alimentar. A água é a mais afetada pelo descarte incorreto, pois os medicamentos jogados em vasos sanitários passam pelo sistema de tratamento de esgotos domésticos e chegam aos rios.

No caso do descarte no lixo comum, os fármacos podem ser carregados para camadas mais profundas e atingir os lençóis freáticos. “A maioria dos sistemas de tratamento de água e esgoto atuais, a nível mundial, não têm capacidade para remoção da vasta gama de produtos farmacêuticos existentes, o que faz com que traços desses medicamentos que foram descartados incorretamente retornem na água para consumo humano e/ou animal”, pontua.

Os pesquisadores ainda estudam a extensão dos efeitos do descarte incorreto na saúde, porém, segundo a professora Emanuele Duarte, pode “trazer impacto para saúde humana, resultando em exposição crônica ou desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos de uso comum.”

Cuidados

Mãe de uma criança com dermatite, a dona de casa Márcia Cruz, de 49 anos, adotou o hábito de descartar corretamente os medicamentos há alguns anos, quando a filha foi diagnosticada com a inflamação de pele. “Tenho o hábito há um bom tempo, desde criança a minha filha tem dermatite. Eu compro muito produto, então não tem como descartar na rua ou em qualquer lugar. Até mesmo em casa, com as latinhas e essas coisas, sempre tive essa preocupação de fazer o descarte direitinho”, conta.


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Dona de casa Márcia Cruz (Foto: Igor Mota | O Liberal)

Para Márcia, descartar os medicamentos corretamente é uma forma de cuidar também das gerações que estão por vir. “A importância com certeza é manter o ambiente, além de onde moro, limpo. E não fazer a poluição do meio ambiente, porque a gente precisa da terra. Além de deixar esse legado para a próxima geração”, pontua.

Antes da promulgação da lei, era comum o descarte em lixo comum por parte da população. A farmacêutica Ana Luiza Morais, de 34 anos, conta que via a situação com frequência quando trabalhava em uma drogaria. “Às vezes os catadores e moradores de rua mexiam nas sacolas e acabavam pegando o medicamento e fazendo uso, e muitas vezes já estava avariado, vencido, com um risco químico para o paciente”, diz.

Como funciona o descarte

O descarte correto dos produtos farmacêuticos se inicia ao levar os materiais para farmácias e/ou unidades de saúde, encarregadas por destinar os resíduos para locais especializados, como aterros para resíduos perigosos. Os fármacos também podem passar por geoprocessamento ou incineração, processos que reduzem os riscos ambientais.

Para destinar medicamentos vencidos ou em desuso de forma correta, a população deve se atentar para a integridade do material. Embalagens quebradas, por exemplo, se tornam perfurocortantes e trazem riscos aos trabalhadores que realizam a retirada. Além disso, as agulhas e seringas também não se encaixam como medicamentos e não podem ser deixadas nos descartômetros, pois são materiais que apresentam contaminação microbiológica.

O descarte incorreto, no lixo doméstico ou no vaso sanitário, por exemplo, pode trazer consequências

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Foto: Igor Mota

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Foto: Igor Mota

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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