O gigante do comércio eletrônico Amazon foi apontado por permitir a venda de produtos cosméticos ilegais com mercúrio em suas plataformas internacionais, segundo um relatório divulgado pelo Grupo de Trabalho Zero Mercúrio (ZMWG).
A investigação, publicada às vésperas da COP-6 da Convenção de Minamata, adverte que cremes clareadores de pele com concentrações milhares de vezes superiores ao limite legal continuam disponíveis em mais de 23 países, especialmente em regiões onde as normas ambientais são menos rigorosas.
Mercúrio em cosméticos: uma ameaça global
O estudo baseia-se em compras realizadas nos Estados Unidos, França, Bélgica, Índia, México e Emirados Árabes Unidos. Dos 31 cremes analisados em laboratórios credenciados da UE e EUA, 25 continha níveis de mercúrio muito acima do limite legal de 1 ppm, estabelecido pelos governos e pelo padrão de “zero mercúrio” da Convenção de Minamata.
“Os consumidores do sul global merecem os mesmos padrões de segurança que os clientes da Amazon nos EUA”, reclamou Sofía Chávez Arce, diretora da organização mexicana Casa Cem.
Duplo padrão e falta de regulação efetiva
Apesar de um recente acordo judicial nos EUA que obriga a Amazon a reforçar seus controles, o relatório denuncia que a empresa não aplica os mesmos requisitos em todos os países.
Em mercados como México, Índia e Emirados Árabes, os produtos com mercúrio continuam disponíveis, enquanto que nos Estados Unidos e Europa sua presença é limitada.
“A Amazon deve exigir testes de detecção de mercúrio de todos os seus vendedores, independentemente do país”, afirmou Michael Bender, coordenador do ZMWG.

COP-6: uma oportunidade para fortalecer a Convenção de Minamata
A Conferência das Partes da Convenção de Minamata (COP-6) será realizada na Suíça de 3 a 7 de novembro, com o objetivo de reforçar as medidas contra o uso de mercúrio, um metal altamente tóxico que representa um risco grave para a saúde humana e o meio ambiente.
Impactos ambientais dos cosméticos ilegais
Os produtos cosméticos que contêm mercúrio, chumbo e outros compostos perigosos geram múltiplos impactos negativos:
Contaminação da água
- Metais pesados como mercúrio, arsênio e chumbo contaminam rios, lagos e oceanos
- Microplásticos presentes nas fórmulas são ingeridos por peixes e entram na cadeia alimentar
- Químicos sintéticos como parabenos e sulfatos afetam a flora aquática e os recifes de coral
Contaminação do solo
- Os resíduos tóxicos alteram a qualidade do solo e afetam as culturas
Contaminação por plásticos
- Embalagens não recicláveis aumentam a carga de resíduos plásticos
- A produção de ingredientes como óleo de palma está vinculada ao desmatamento e perda de habitats
Danos a ecossistemas
- Substâncias como a oxibenzona danificam os recifes de coral e provocam seu branqueamento
- A contaminação generalizada contribui para a perda de biodiversidade marinha e terrestre
Justiça comercial e ambiental: uma demanda urgente
A denúncia contra a Amazon evidencia a necessidade de regulação global equitativa, onde todos os consumidores tenham acesso a produtos seguros, independentemente de seu país de residência.
A aplicação desigual de padrões perpetua injustiças ambientais e sanitárias, especialmente no sul global.