Durante a semana que celebra um dos predadores mais fascinantes do oceano — a Shark Week — um especialista em conservação marinha recorda o momento em que a sua paixão por tubarões se cruzou, inesperadamente, com o problema crescente da poluição plástica nos mares. O testemunho chega de alguém que, antes de se dedicar à luta contra os plásticos nos oceanos, era, nas suas palavras, “um homem dos tubarões”.
Há cerca de duas décadas, enquanto investigava tubarões nas águas cristalinas das Ilhas Turcas e Caicos, este investigador participava num projeto científico que estudava os hábitos e movimentos dos jovens tubarões-limão. A equipa do School for Field Studies partia diariamente em embarcações para marcar exemplares e compreender melhor os seus habitats naturais. Pelo caminho, encontravam outras espécies igualmente impressionantes, como os tubarões-de-recife-do-Caribe, tubarões-cabeça-de-pá e até o temido, mas admirado, tubarão-tigre.
Mas foi numa tarde solarenga, durante uma patrulha de rotina nas águas de South Caicos, que o investigador se deparou com algo inesperado: vastas quantidades de lixo plástico acumulado numa praia inacessível, encurralado entre recifes rasos e falésias íngremes. A paisagem paradisíaca escondia um problema inquietante — um mar cada vez mais poluído por resíduos humanos.
Tubarões em Risco
Hoje, sabe-se que os tubarões estão particularmente vulneráveis à poluição plástica. Estão documentados casos de pelo menos 34 espécies que ficaram presas em detritos plásticos, embora o número real seja provavelmente muito superior. Entre os resíduos mais perigosos encontram-se as artes de pesca abandonadas, conhecidas como “apetrechos-fantasma”, bem como cintas plásticas em forma de laço que se enrolam nos corpos dos animais, impedindo-os de se alimentar ou até de respirar.
O risco não se limita ao exterior. Sacos, embalagens e até botas de borracha têm sido encontrados nos estômagos de tubarões. Estudos recentes revelam que espécies filtradoras como o tubarão-baleia podem estar a ingerir milhares de microplásticos, e até tubarões-tigre e martelo já apresentaram grandes quantidades dessas partículas no organismo. O impacto desta contaminação na saúde dos tubarões — e no equilíbrio dos ecossistemas marinhos — ainda está longe de ser totalmente compreendido, mas os sinais não são animadores.
Da Investigação à Ação
Foi também em South Caicos, em 2006, que o agora membro da Ocean Conservancy participou pela primeira vez na International Coastal Cleanup® (ICC), uma iniciativa global que mobiliza milhões de voluntários para recolher e catalogar o lixo marinho. Cada pedaço de plástico encontrado — muitos com rótulos e marcas oriundas de vários pontos das caraíbas — despertava uma série de perguntas: “De onde veio isto?”, “Como chegou até aqui?” e “Que impacto terá nos animais marinhos?”.
Essas primeiras experiências moldaram uma carreira dedicada à luta contra os plásticos nos oceanos. O investigador aprendeu que a análise dos rótulos e idiomas nas embalagens é uma ferramenta poderosa para rastrear as origens do lixo — uma técnica que ainda hoje aplica no terreno, por todo o mundo.
Um Apelo Urgente
Com mais de 400 milhões de anos de história evolutiva, os tubarões sobreviveram a eras glaciais e extinções em massa. No entanto, nunca estiveram preparados para enfrentar a ameaça que hoje paira sobre o seu habitat: o plástico.
Neste mês de julho — marcado pela campanha Plastic Free July — e durante a Shark Week, a Ocean Conservancy apela à ação de todos. A organização incentiva os cidadãos a pressionarem os seus representantes políticos a eliminar os plásticos descartáveis e a adotarem soluções mais sustentáveis.
Porque, como sublinha o autor deste testemunho, “o que mais assusta no oceano já não é o tubarão — é o plástico”.
Aqui ficam links para alguns estudos sobre este tema, caso queira aprofundar…