Se fosse roteirizado, ninguém compraria. A premissa é tão absurda quanto fascinante: um grupo de mães suburbanas se junta para virar uma espécie de equipe de espionagem caseira, com direito a escutas, infiltrações e missões secretas, tudo isso enquanto fazem cupcakes e levam os filhos para o futebol. “Desastre Total: Mães Detetives” tenta vender esse roteiro como realidade, e até entrega algum entretenimento, mas tropeça feio quando a promessa de caos vira apenas uma sucessão de reconstituições sem fundamento, depoimentos frustrados e um desfecho que parece ter sido costurado com linha frouxa.
A obra tem tudo o que um bom documentário precisa para funcionar: mistério, personagens excêntricos e uma história improvável que vira manchete nacional. Mas o que poderia ser uma bomba se transforma em estalinho. Há uma pressa irritante em avançar no enredo, como se o tempo corresse contra a produção, e o resultado é um corte apressado que beira o superficial. O caso envolvendo a série televisiva cancelada às pressas, os rumores de corrupção e tráfico e a figura sombria de um policial obcecado por si mesmo ficam ali, jogados na tela, mas nunca realmente desvendados.
O que mais pesa é a sensação de que a história prometida no trailer ficou no trailer. A tal equipe de mães detetives mal aparece em ação. Os conflitos entre elas, o funcionamento da tal empresa de investigação, os dilemas morais, o impacto real nas famílias envolvidas… tudo isso é pincelado com descaso. Ao invés de mergulhar fundo, o filme opta por uma estética de infotainment barato, com reencenações dignas do Discovery ID e uma montagem que mais confunde do que explica.
Fica claro que havia material para algo muito mais sólido, mais corajoso e mais curioso. Mas o ritmo alucinado com que documentários vêm sendo lançados, especialmente dentro da grife “Trainwreck”, compromete qualquer ambição de profundidade. E isso se sente aqui: o filme tem alma de série. Pedia três episódios, no mínimo, para fazer jus à complexidade do caso e à bizarrice dos envolvidos. A versão condensada em 45 minutos deixa uma sensação amarga de oportunidade perdida.
O tom cínico, quase debochado, ajuda a segurar a atenção, mas não disfarça os buracos. O espectador termina sem saber quem eram de fato aquelas mães e por que elas se prestaram a um papel tão absurdo. Faltou contexto, faltou investigação de verdade, faltou entender o que motivava aquelas mulheres. E se no início parece que estamos diante de um novo fenômeno do crime real, no fim o que sobra é uma produção preguiçosa tentando parecer mais polêmica do que realmente é.
Ainda assim, “Desastre Total: Mães Detetives” entrega algo que merece ser olhado com carinho: o retrato tragicômico de um sistema pronto para transformar qualquer ideia absurda em conteúdo vendável. E quando esse conteúdo envolve mães com câmeras escondidas e homens medíocres usando distintivos como escudos, a chance de tragédia é tão alta quanto a de riso nervoso.
“Desastre Total: Mães Detetives“
Direção: Phil Bowman | Com: Mães, detetives e um monte de homens irritantes
Disponível na Netflix
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