O ciclone extratropical que varreu a região Sudeste no início de dezembro de 2025 provocou um verdadeiro caos em São Paulo, com ventos próximos aos 100 km/h derrubando árvores, interrompendo redes elétricas e gerando um apagão que deixou mais de 1,3 milhão de residências sem energia elétrica por mais de 24 horas, além de afetar o abastecimento de água e causar centenas de cancelamentos e atrasos de voos nos principais aeroportos da capital paulista. Em Congonhas, passageiros relataram longas esperas e filas, situação que se agravou diante da falta de informações e estrutura de apoio adequada.

Esse tipo de impacto, embora tenha surpreendido grande parte da população paulista, não é um caso isolado no Brasil recente. Aqui no Rio Grande do Sul, em 2024, vivemos um dos piores desastres naturais de nossa história: enchentes intensas entre abril e maio inundaram grande parte do território, interromperam serviços essenciais, deixaram milhares de desabrigados e resultaram em centenas de vidas perdidas. Nas zonas urbanas e ribeirinhas, o volume de chuva superou registros históricos, forçando evacuações e afetando profundamente a economia local, a infraestrutura e a vida cotidiana de milhões de gaúchos

Apesar das diferenças de escala e de tipo – um ciclone de ventos fortes em São Paulo versus enchentes catastróficas no Sul – ambos os eventos compartilham uma mesma raiz nas fragilidades de preparação e resposta a fenômenos extremos. Enquanto a população paulista enfrentou longas horas sem eletricidade e água, refletindo sobre a dependência de redes elétricas vulneráveis, no Rio Grande do Sul muitas comunidades ainda lidam com as consequências sociais, econômicas e de infraestrutura de um desastre que escancarou a necessidade de planejamento e adaptação frente à crescente variabilidade climática.

O que pode ser aprendido com esses episódios é a força da resiliência comunitária, especialmente evidenciada no Sul do Brasil, onde moradores, brigadistas, forças de segurança e voluntários se organizaram para resgatar pessoas, animais e reconstruir lares e cidades diante de um desafio sem precedentes. Essa resiliência – a capacidade de se adaptar, reconstruir e seguir em frente – é uma lição essencial para o Brasil como um todo, pois eventos climáticos extremos tendem a se tornar mais frequentes e intensos à medida que as perturbações atmosféricas globais se intensificam.

Voltando ao caso dos aeroportos, em especial Guarulhos e Congonhas, o impacto se reflete em todo o país. E o fenômeno deixa de ter impacto regional e passa a uma escala nacional. Relacionando o tema com a questão da resiliência mencionada anteriormente, foi visto em diversas falas que o brasileiro, de forma geral, não apresenta preparo para esse tipo de situação. Pessoas preocupadas em resolver o seu problema, pouco se importando com as consequências para o coletivo. Muitos indignados com o cancelamento dos voos, indiferentes às condições de segurança envolvidas.

Logo, a convivência com fenômenos naturais extremos exige que o povo brasileiro desenvolva uma cultura de prevenção, adaptação e educação climática. Isso inclui desde investimentos em infraestrutura resiliente e sistemas de alerta e resposta mais eficazes até uma compreensão coletiva de que eventos como ciclones extratropicais, enchentes ou ondas de calor não são aberrantes isolados, mas parte de um novo padrão climático que demanda planejamento urbano, políticas públicas robustas, cooperação intermunicipal e um compromisso sustentado com a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Mas, acima de tudo, mudar o pensamento predominantemente vitimista existente hoje, por uma mentalidade adaptativa e construtiva diante dos fenômenos atmosféricos extremos.

(*) Rosito Zepenfeld Borges é Engenheiro de Segurança do Trabalho. Ele escreve no site às segundas-feiras.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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