O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), completa dez anos nesta quarta-feira (5). O desastre, que matou 20 pessoas e contaminou quase 700 km de rios entre Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, segue sem responsáveis condenados. Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o caso se tornou um símbolo da impunidade das mineradoras no Brasil.

“As mineradoras ainda não foram responsabilizadas criminalmente, apesar das 20 pessoas que elas assassinaram e da contaminação dos quase 700 km de rio”, afirmou Pedro Gonzaga, da coordenação estadual do MAB em Minas Gerais, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

“Nós veremos, mais uma vez, o Judiciário de olhos fechados frente ao maior crime ambiental já cometido no país, um fato que incentiva as empresas a seguirem essa lógica do sistema capitalista de lucro acima da vida, em que os crimes para elas compensam financeiramente”, lamentou.

Segundo o coordenador, o medo de novos rompimentos ainda assombra comunidades próximas a barragens. “As pessoas que moram em regiões com barragens de mineração ainda sofrem com o terrorismo de barragens, o medo constante, a perda de tranquilidade de estar em suas próprias casas e trabalhos”, disse.

Reparação insuficiente

De acordo com Gonzaga, a reparação aos atingidos avança lentamente. “O rio ainda está contaminado. Os pescadores não podem pescar. Muitos agricultores estão com suas terras cobertas de lama. Dezenas de categorias ainda nem foram reconhecidas”, relatou.

Ele defendeu que os recursos do Programa de Transferência de Renda (PTR) e outros fundos coletivos sejam aplicados com prioridade nas famílias atingidas, “para que reativem os ciclos econômicos regionais e combatam a vulnerabilidade social e a insegurança alimentar”.

Sobre o acordo firmado pelo governo federal em 2023, estimado em R$ 170 bilhões, Gonzaga considera o valor insuficiente, embora superior à proposta anterior do governo mineiro. “É cerca de quatro vezes maior ao valor que o governador [Romeu] Zema negociava junto ao governo anterior [do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)], que tirava muitos direitos dos atingidos”, destacou.

O coordenador também lembrou que as empresas Samarco, Vale e BHP continuam sendo processadas na Justiça britânica e em outros países. “Todos esses caminhos são importantes para que haja uma reparação integral feita com o protagonismo do povo”, defendeu.

Ato nacional e encontro dos atingidos

O MAB promoverá um ato nacional em Belo Horizonte na quarta (5), denunciando os dez anos do crime, e continuará mobilizado em memória das vítimas de Brumadinho, em 25 de janeiro, até o Dia Internacional de Luta das Populações Atingidas por Barragens, em 14 de março, e o Dia Mundial da Água, em 22 de março.

O movimento também prepara para esta semana o 4º Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens e pela Crise Climática, que será realizado entre os dias 7 e 12 de novembro em Belém (PA). “Vamos seguir construindo essa luta contra esse modelo econômico de mineração em nível global”, anunciou Gonzaga.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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