Uma equipa internacional de cientistas descobriu no Grand Canyon um conjunto excecional de fósseis de animais com mais de 500 milhões de anos. Entre eles está uma nova espécie de verme pré-histórico batizado em homenagem a uma criatura de Star Wars.
Um tesouro de fósseis excecionalmente preservados, datados de há mais de 500 milhões de anos, foi encontrado no Grand Canyon, um dos locais mais icónicos do planeta. A descoberta, liderada pela Universidade de Cambridge, revela detalhes inéditos sobre a chamada explosão Cambriana – um período de rápida diversificação da vida, entre 541 e 485 milhões de anos atrás, quando surgiram muitos dos principais grupos de animais que ainda hoje existem.
Uma nova criatura com nome de Star Wars
Entre os fósseis identificados destaca-se uma nova espécie de priapúlido, também conhecido como “verme-cacto2”. Estes animais eram comuns no Cambriano, mas hoje encontram-se quase extintos. O exemplar do Grand Canyon possuía centenas de dentes ramificados e complexos, usados para varrer partículas de alimento para a sua boca extensível.
Devido ao tamanho e ao aspeto exótico dos fósseis, os investigadores deram-lhe o nome de Kraytdraco spectatus, em homenagem ao dragão Krayt, uma criatura fictícia do universo Star Wars.
Um ecossistema preservado na pedra
Até agora, os fósseis encontrados no Grand Canyon pertenciam sobretudo a animais de concha dura, como os trilobites (parente distante dos insetos e crustáceos). Desta vez, os cientistas conseguiram recuperar fósseis de animais de corpo mole, algo muito raro, já que tecidos moles normalmente decompõem-se rapidamente.
Ao dissolver as rochas em ácido e analisar os sedimentos ao microscópio, a equipa encontrou milhares de fósseis microscópicos, incluindo:
- Crustáceos filtradores, semelhantes a pequenos camarões, que usavam apêndices com pelos para capturar partículas de alimento da água;
- Moluscos primitivos, comparáveis a lesmas, com fileiras de minúsculos dentes para raspar algas das rochas;
- Diversos vermes dentados, com sistemas de alimentação complexos e especializados.
O “laboratório da evolução”
Os fósseis datam de 507 a 502 milhões de anos, uma fase em que os oceanos estavam cheios de nutrientes e oxigénio, criando condições ideais para a inovação evolutiva.
Segundo Giovanni Mussini, autor principal do estudo, “o Grand Canyon funcionava como uma espécie de zona ideal para a vida – não demasiado profunda, nem demasiado rasa – com recursos abundantes que permitiram aos animais arriscar e desenvolver novas estratégias de sobrevivência”.
Este ambiente foi descrito pelos investigadores como uma espécie de “zona Goldilocks” – termo usado em ciência para designar condições “no ponto certo” (nem demasiado extremas, nem insuficientes).
A importância da descoberta
A preservação de fósseis de corpo mole fora de ambientes pobres em oxigénio (onde costumam ser encontrados) surpreendeu os cientistas, pois mostra que ecossistemas ricos também podiam conservar vestígios tão delicados.
“Estes fósseis dão-nos uma imagem muito mais completa de como era a vida durante o Cambriano”, afirma Mussini. “Podemos ver os diferentes estilos de alimentação, alguns semelhantes aos de animais modernos e outros totalmente exóticos”.
A investigação foi publicada na revista científica Science Advances e contou com o apoio da National Science Foundation (EUA) e do Natural Environment Research Council (Reino Unido).
Glossário simplificado para o leitor:
- Explosão Cambriana: período em que a vida animal diversificou-se rapidamente, originando muitas formas ainda existentes.
- Trilobite: animal marinho extinto, de corpo segmentado e carapaça dura.
- Priapúlido: verme marinho, hoje raro, conhecido pela sua forma cilíndrica.
- Zona Goldilocks: expressão usada em ciência para descrever condições “no ponto certo” para algo prosperar.