O consumo e a morte de peixes contaminados por
microplásticos
podem afetar não apenas a disponibilidade de alimentos, mas também a produção de culturas essenciais para a agricultura brasileira, como soja,
café
, feijão e laranja.

O alerta foi feito por Décio Luis Semensatto Júnior, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus de Diadema, durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada sobre Poluentes Emergentes, realizada entre 2 e 13 de setembro em Santos (SP).

Segundo o pesquisador, os peixes são predadores naturais das larvas de libélulas, esses insetos alados são predadores de algumas espécies de abelhas polinizadoras de flores e frutos de grande importância econômica. Com a morte de peixes causada pela ingestão de microplásticos, aumenta-se a população de larvas de libélulas, o que pode reduzir o número de abelhas e impactar diretamente a polinização de plantas com importância econômica.

“Para aumentar a produção vegetal, é preciso proteger os peixes contra a
contaminação por microplásticos
, porque a natureza está conectada”, reforçou o especialista.

Onipresença dos microplásticos

Os microplásticos derivam da degradação de objetos plásticos maiores, como garrafas e sacolas, e podem percorrer grandes distâncias, atingindo diversos organismos aquáticos. Mesmo organismos minúsculos, como a pulga-d’água (Daphnia magna), são afetados. Essa espécie, que mede no máximo 5 milímetros, filtra matéria orgânica da água e é usada como bioindicador em testes ecotoxicológicos.

Em laboratório, foram encontrados
nanoplásticos dentro desses microcrustáceos, que podem se originar de tampas de garrafas ou fibras plásticas fragmentadas.

“Isso mostra como um único fragmento pode se multiplicar em incontáveis outros, cada um com sua própria ‘história’ química e física. É uma tragédia”, avaliou Semensatto.

Alterações químicas e físicas dos microplásticos

Durante o percurso pelos ambientes aquáticos, os microplásticos sofrem alterações químicas e físicas que dificultam a identificação dos polímeros originais. A exposição à radiação UV, à água e a outros fatores ambientais provoca degradação, mudanças na cor e na estrutura física, aumentando a liberação de partículas ainda menores, os nanoplásticos.

Em um projeto de pesquisa na foz do rio Amazonas, os pesquisadores identificaram fibras plásticas fragmentadas ao longo do tempo, liberando nanoplásticos que se dispersam pelos ecossistemas.

Plásticos e mudanças climáticas

Semensatto alerta que a poluição por plásticos está diretamente relacionada à cadeia de produção e ao ciclo de vida desses materiais.

“Embora os plásticos possam ser fabricados a partir de fontes renováveis, 99% dos polímeros usados hoje vêm de combustíveis fósseis. Ou seja, são combustíveis fósseis em movimento”, explicou.

Em agosto, representantes de 184 países se reuniram em Genebra, na Suíça, para discutir um instrumento jurídico vinculante contra a poluição plástica. No entanto, as negociações terminaram sem consenso, o que preocupa especialistas.

“A discussão sobre a poluição plástica avança muito lentamente e é preciso acelerar medidas para proteger os ecossistemas”, alertou Semensatto.

*Com Agência Fapesp

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *