O clima de tensão internacional entre Irã e Israel chegou perigosamente perto da diplomacia brasileira, com ataques aéreos cada vez mais próximos da embaixada do Brasil em Teerã e um apagão digital que durou dias.
Segundo a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, durante três dias consecutivos, a embaixada brasileira na capital iraniana enfrentou uma interrupção completa no acesso à internet, o que comprometeu severamente a comunicação com o Itamaraty e com os cidadãos brasileiros residentes no país do Oriente Médio.
O restabelecimento parcial do sinal ocorreu apenas entre o sábado (20) e o domingo (21), mas a conexão continuou instável.
A situação se agravou com os bombardeios israelenses que passaram a atingir áreas próximas ao bairro de Zafaranieh, onde fica localizada a representação diplomática do Brasil.
A ofensiva, que inicialmente se concentrava em regiões periféricas de Teerã, agora representa uma ameaça direta à integridade física da missão brasileira e de seu corpo diplomático.
Bombas próximas à embaixada aumentam a tensão
Na manhã da segunda-feira (23), novos ataques atingiram áreas adjacentes ao bairro de Zafaranieh.
Entre os alvos identificados estavam a prisão de Evin, que fica nas redondezas da sede da embaixada, e instalações de organizações consideradas estratégicas para o regime iraniano.
A prisão de Evin é conhecida por abrigar dissidentes políticos, e sua proximidade geográfica com a missão brasileira causou grande preocupação entre os diplomatas.
Além disso, a sede do grupo miliciano Basij, ligado à Guarda Revolucionária Islâmica, também foi bombardeada.
Outras estruturas atacadas incluem prédios pertencentes ao serviço de inteligência interna iraniano.
O cenário é de escalada militar com riscos crescentes para missões estrangeiras, especialmente aquelas localizadas em áreas residenciais de alto padrão como Zafaranieh, que anteriormente era considerada relativamente segura.
Ataque cibernético agrava a crise
Paralelamente aos bombardeios, o Irã enfrentou um poderoso ataque cibernético contra o Bank Sepah, uma das instituições financeiras estatais mais importantes do país.
O governo iraniano cortou o acesso à internet em toda a capital como medida de contenção, o que afetou diretamente a embaixada brasileira.
A autoria do ciberataque foi reivindicada pelo coletivo de hackers conhecido como Pardal Predador (Gonjeshke Darande), um grupo com histórico de ofensivas sofisticadas contra alvos estratégicos do regime iraniano.
Segundo a agência Reuters, o grupo alegou que o Bank Sepah estaria financiando diretamente ações militares do Irã, o que justificaria o ataque.
A imprensa israelense foi além e indicou que o coletivo de hackers pode estar ligado aos interesses de segurança de Israel, embora o governo israelense não tenha assumido oficialmente qualquer conexão.
O ataque digital resultou em falhas de acesso a contas bancárias, instabilidade nos sistemas de pagamento e um rastro de incerteza na população iraniana.
Histórico de ataques do grupo hacker
Essa não é a primeira vez que o Pardal Predador mira infraestruturas estratégicas do Irã.
Em 2022, o mesmo coletivo assumiu a responsabilidade por um ataque contra uma siderúrgica iraniana, e em 2021 foi apontado como autor de uma ofensiva que causou uma pane generalizada nos postos de combustíveis do país.
A sucessão de ataques reforça uma nova dimensão da guerra moderna: além dos mísseis e drones, agora os conflitos se travam também nos bastidores digitais, em uma guerra silenciosa e muitas vezes sem autoria declarada.
Risco à diplomacia brasileira
Diante do quadro de instabilidade crescente, o Itamaraty acompanha de perto a situação e avalia medidas de reforço à segurança da embaixada.
A proximidade dos ataques a áreas civis e diplomáticas reacende o debate sobre o papel do Brasil em zonas de conflito ativo, especialmente quando há uma escalada militar envolvendo grandes potências ou aliados estratégicos.
Mesmo não sendo parte direta do conflito, o Brasil passa a figurar no cenário de risco quando suas representações diplomáticas estão inseridas em áreas sob ataque.
A presença brasileira no Irã, ainda que pautada pela neutralidade diplomática, pode ser colocada em xeque se a situação se deteriorar ainda mais.