No coração do Alto Urubamba, em Cusco, Peru, as comunidades nativas matsigenkas conseguiram reunir mais de duas toneladas de pilhas usadas durante este ano. Os resíduos foram entregues ao Ministério do Meio Ambiente (Minam) para sua disposição final segura, evitando que os químicos desses resíduos danifiquem seus territórios amazônicos.

A ação está inserida no Programa de Monitoramento Ambiental Comunitário do Alto Urubamba (PMAC-AU), que promove a vigilância do ambiente e a participação direta das comunidades indígenas. Essa experiência não apenas contribui para reduzir a contaminação local, mas também fortalece a gestão comunitária de resíduos em territórios de alta biodiversidade.

A coleta em massa foi realizada com a colaboração ativa das comunidades de Timpía, Monte Carmelo, Aendoshiari, Ticumpinia, Camaná, Mazokiato, Manitinkiari, Shimaa e Poyentimari, além dos assentamentos rurais Túpac Amaru, Cigakiato e Manatarushiato. Juntas, essas comunidades demonstraram como a organização coletiva pode enfrentar um problema ambiental global com soluções locais.

O programa também envolve monitores ambientais da região, que trabalham permanentemente na Reserva Comunal Machiguenga. Seu trabalho reforça a proteção de áreas naturais e garante que as ações de conservação sejam desenvolvidas com um enfoque intercultural e participativo.

As comunidades matsigenkas do Peru coletaram toneladas de pilhas para proteger a Amazônia. Foto: Plataforma Digital Única del Estado Peruano.
As comunidades matsigenkas do Peru coletaram toneladas de pilhas para proteger a Amazônia. Foto: Plataforma Digital Única del Estado Peruano.

O passo a passo de uma ação comunitária

A iniciativa de coletar pilhas usadas no Alto Urubamba segue uma dinâmica organizada e constante. Primeiramente, os monitores ambientais informam as famílias sobre os riscos das pilhas abandonadas em rios, solos ou áreas agrícolas. Em seguida, cada comunidade estabelece pontos de coleta onde os moradores depositam os resíduos acumulados.

Uma vez reunidas, as pilhas são levadas para centros de armazenamento temporário que seguem medidas de segurança. A partir daí, com o apoio do Minam e de empresas operadoras autorizadas, os resíduos são enviados para instalações onde recebem um tratamento adequado que evita seu contato com o ambiente.

O processo é concluído com a entrega oficial ao Ministério, ato que simboliza a corresponsabilidade entre Estado, comunidades e setor privado. Dessa forma, fortalece-se um modelo de gestão em que a população local é protagonista e aliada na defesa do território amazônico.

As pilhas usadas e seu impacto silencioso

As pilhas são objetos de uso cotidiano em lanternas, rádios e outros dispositivos básicos para a vida diária, especialmente em áreas rurais. No entanto, quando descartadas de forma inadequada, liberam metais pesados como mercúrio, cádmio e chumbo, que se infiltram em solos e cursos de água.

Uma única pilha abandonada pode contaminar até mil litros de água, colocando em risco a saúde de comunidades humanas, animais e ecossistemas completos. A degradação desses produtos químicos é lenta e seus efeitos se acumulam, afetando a qualidade de rios e riachos fundamentais para a Amazônia.

Na floresta, onde a vida depende estreitamente de fontes de água limpa, o impacto pode ser devastador. A bioacumulação desses metais em peixes, aves e mamíferos gera alterações na reprodução, no crescimento e na sobrevivência de espécies-chave para o equilíbrio ecológico.

O problema não se limita à Amazônia. Globalmente, as pilhas mal descartadas representam um desafio ambiental de grande magnitude. A Organização das Nações Unidas estima que a cada ano são produzidas milhares de toneladas de baterias domésticas, muitas das quais acabam em lixões a céu aberto, aumentando o risco de contaminação global.

As comunidades matsigenkas do Peru coletaram toneladas de pilhas para proteger a Amazônia. Foto: Plataforma Digital Única del Estado Peruano.
As comunidades matsigenkas do Peru coletaram toneladas de pilhas para proteger a Amazônia. Foto: Plataforma Digital Única del Estado Peruano.

Um exemplo que inspira

A experiência dos matsigenkas demonstra que a educação ambiental e a organização comunitária podem fazer a diferença. Com a articulação de esforços entre povos indígenas, autoridades e empresas, alcança-se um círculo virtuoso de conservação que protege tanto as pessoas quanto os ecossistemas.

Ações como essa evidenciam que os resíduos não são um problema isolado, mas um desafio que exige corresponsabilidade global. Enquanto as comunidades amazônicas dão o exemplo com seu compromisso, o desafio agora é replicar e fortalecer essas práticas em mais territórios, garantindo que a proteção do ambiente seja uma prioridade compartilhada.

A Amazônia, pulmão do planeta e fonte de vida, beneficia-se diretamente dessas iniciativas locais. O trabalho dos matsigenkas é um lembrete de que cada pilha coletada representa mil litros de água salva, e

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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