Da redação
Mais de 400 mil moradores de Illinois foram surpreendidos nesta primavera com um aviso preocupante: seus sistemas de abastecimento de água apresentaram níveis elevados de PFAS — substâncias químicas perfluoroalquil e polifluoroalquil, conhecidas como “químicos eternos”.
As notificações foram enviadas pela Agência de Proteção Ambiental de Illinois (IEPA) em abril, após o estado adotar um novo padrão federal mais rigoroso para essas substâncias. Os 47 sistemas comunitários afetados foram obrigados a alertar imediatamente seus usuários, por carta, e-mail, mensagem de texto ou telefonema.
Presentes em itens como roupas impermeáveis e embalagens de alimentos, os PFAS vêm sendo associados a sérios riscos à saúde, incluindo câncer de rim, doenças da tireoide e colite ulcerativa. Em Illinois, seis tipos dessas substâncias passaram a ter limites específicos para a qualidade da água subterrânea — se qualquer uma delas ultrapassar os níveis permitidos, as comunidades devem ser notificadas.
“Os possíveis efeitos dos PFAS à saúde variam conforme a quantidade e a duração da exposição. Por isso, é essencial minimizar o contato”, destacou a IEPA na correspondência. O órgão sugeriu filtros de carbono ou sistemas de osmose reversa para o tratamento residencial, mas advertiu que essas soluções nem sempre reduzem os níveis abaixo do risco.
Crest Hill entre as cidades afetadas
Crest Hill, a cerca de 50 km de Chicago, está entre as cidades atingidas. Análises encontraram ácido perfluorooctanoico (PFOA) a 13,7 partes por trilhão (ppt) e ácido perfluorohexanossulfônico (PFHxS) a 12,2 ppt — ambos acima dos limites regulatórios, que são de 4 ppt e 10 ppt, respectivamente.
A cidade informou os moradores por carta em abril e ressaltou que seis dos oito poços locais permanecem sem contaminação. Segundo o engenheiro municipal Ron Wiedeman, a legislação estadual exige monitoramento contínuo até 2027 e a implementação de um plano de redução de PFAS até abril de 2029.
Moradores, no entanto, questionaram o atraso na comunicação. Crest Hill já havia feito análises em 2021 e em dezembro de 2023, mas a IEPA só emitiu os alertas após o novo padrão ser oficialmente adotado. “Antes, não havia limites máximos definidos. Só soubemos que estávamos acima dos níveis após a nova regulamentação”, explicou Wiedeman.
Origem incerta da contaminação
As PFAS entram no ambiente por meio de processos industriais, vazamentos e produtos descartados — o que torna difícil rastrear sua origem. Em Crest Hill, embora espumas de combate a incêndio contendo PFAS tenham sido usadas, não foi possível associar diretamente seu uso aos locais contaminados.
“Sabemos de alguns casos em que espuma foi usada, mas os locais não coincidem com os poços com maior contaminação”, disse Wiedeman. “Os PFAS estão por toda parte, mas muita gente ainda não sabe disso.”
A IEPA está reunindo dados de todo o estado e publicou sete alertas sanitários entre 2021 e 2024. “Seguiremos colaborando com os sistemas de água para informar os moradores e definir ações necessárias para reduzir a exposição”, afirmou a porta-voz Kim Biggs.
Alternativas para o futuro
Para lidar com os riscos a longo prazo, Crest Hill planeja abandonar os poços e adotar a água tratada do Lago Michigan. Um acordo firmado com cidades vizinhas prevê a transição até 2030, quando o sistema será conectado à moderna estação de tratamento de Chicago.
Enquanto isso, pesquisadores da Universidade de Illinois em Chicago buscam eliminar os PFAS diretamente na fonte. O projeto, liderado pelo professor Brian Chaplin e financiado pelo Departamento de Energia dos EUA, testa um sistema de filtração com membranas eletroquímicas que não apenas removem, mas destroem os PFAS durante o tratamento.
“Nosso objetivo é eliminar a necessidade de múltiplos tratamentos e acabar com os PFAS no próprio local de contaminação”, disse Chaplin. O sistema deve ser testado na Califórnia antes de ser aplicado em larga escala.
Chaplin também recomenda mudanças simples no dia a dia: “Evite panelas com antiaderente. Use ferro fundido ou aço inox. Os consumidores têm mais poder do que pensam. Se pararem de comprar produtos com PFAS, o mercado terá que se adaptar.”