Era 12 de novembro de 1996, pouco depois das 18h30, quando o voo 763 da Saudi Arabian Airlines, um Boeing 747, decolou do aeroporto Indira Gandhi, em Nova Délhi, com destino a Dhahran, na Arábia Saudita. A bordo estavam 312 pessoas — 289 passageiros e 23 tripulantes.
Ao mesmo tempo, o voo 1907 da Kazakhstan Airlines, um Ilyushin Il-76, aproximava-se de Nova Délhi vindo de Shymkent, no Cazaquistão, com 37 ocupantes. Ambos trafegavam pela mesma rota aérea, a G452, a cerca de 100 quilômetros a oeste da capital indiana, sobre o pequeno vilarejo agrícola de Charkhi Dadri.
Às 18h40, as duas aeronaves colidiram em pleno ar. Em segundos, mais de 500 toneladas de destroços despencaram sobre plantações de algodão e mostarda. Não houve sobreviventes. Todos os 349 passageiros e tripulantes morreram — o que faz do episódio a pior colisão aérea da história e o mais grave desastre aéreo já ocorrido na Índia.
A investigação concluiu que o acidente foi resultado de erro humano e falha de comunicação entre a tripulação do voo cazaque e o controle aéreo indiano.
O controle havia instruído o Ilyushin Il-76 a manter a altitude de 15 mil pés, enquanto o Boeing 747 saudita subia para 14 mil pés. No entanto, por razões nunca totalmente esclarecidas, a tripulação do avião cazaque continuou descendo abaixo da altitude permitida, entrando no espaço aéreo do jato saudita.
Ambas as tripulações haviam sido alertadas sobre a presença de outra aeronave na rota, mas a barreira linguística entre os pilotos e o controle de tráfego, somada à ausência de equipamentos de alerta de colisão, impediu qualquer manobra de evasão.
Céu coberto de destroços e lições duras
Testemunhas relataram que os destroços se espalharam por quilômetros, cobrindo os campos da vila. Passaportes, brinquedos, assentos e bagagens foram encontrados entre os destroços carbonizados. Muitos moradores passaram a noite tentando encontrar sobreviventes — sem sucesso.
Grande parte das vítimas eram trabalhadores que seguiam para o Golfo Pérsico, em busca de emprego. Noventa e quatro corpos estavam em estado tão degradado que não puderam ser identificados visualmente.
A tragédia de Charkhi Dadri levou a mudanças profundas na aviação civil mundial. Após o acidente, a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) instituiu a proficiência obrigatória em inglês para pilotos e controladores de tráfego aéreo, a fim de evitar falhas de comunicação semelhantes. Além disso, passou a ser obrigatória a instalação do sistema anticolisão (TCAS) em todas as aeronaves comerciais, capaz de alertar pilotos sobre outras aeronaves próximas.
