O mistério sobre o que acontece no último segundo antes da morte acaba de ganhar novas pistas da ciência. Pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá, identificaram que a audição é o último sentido a se apagar no corpo humano. O estudo, publicado na revista científica Nature, mostra que, mesmo inconscientes, pacientes em seus momentos finais ainda registravam respostas cerebrais a estímulos sonoros.
Os cientistas acompanharam pacientes em cuidados paliativos no St. John Hospice, em Vancouver, utilizando eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade elétrica do cérebro. Foram comparadas reações de três grupos: pessoas saudáveis, pacientes conscientes e os mesmos pacientes após entrarem em estado de inconsciência, já próximos da morte.
O resultado surpreendeu: em todos os casos, o cérebro apresentou sinais característicos ao ouvir sons inesperados, conhecidos como MMN (mismatch negativity), além de outros padrões mais complexos, como P3a e P3b, também observados em voluntários saudáveis.
“Nosso estudo mostra que um cérebro à beira da morte pode responder ao som, mesmo em um estado inconsciente, até as últimas horas de vida”, explicou a pesquisadora Elizabeth Blundon, uma das autoras do trabalho.
Conforto para famílias
Para especialistas, a descoberta tem forte impacto emocional. A médica Romayne Gallagher, que atuou durante três décadas em cuidados paliativos, disse que sempre suspeitou do papel da audição nos instantes finais. Segundo ela, relatos de reações sutis a vozes de familiares já eram comuns nos hospitais.
“Isso dá significado aos últimos dias e horas de vida. Mostra que estar presente, em pessoa ou por telefone, realmente faz diferença. É um conforto poder se despedir e expressar amor”, afirmou Gallagher.
Ainda restam perguntas
Apesar das evidências, os cientistas ressaltam que não é possível afirmar se os pacientes realmente compreendem o que ouvem. As ondas cerebrais mostram reação aos estímulos, mas não confirmam memória, reconhecimento de vozes ou entendimento da linguagem.
Ainda assim, o achado reforça um ponto essencial: conversar com alguém em seus momentos finais pode trazer conforto, mesmo que a pessoa não responda. Para os pesquisadores, a audição permanece como um elo invisível entre a vida e a despedida.