Estudos apontam riscos inéditos para Amazônia, fauna marinha e comunidades tradicionais caso exploração avance sem garantias ambientais.

Um vazamento de petróleo na Margem Equatorial pode gerar impactos mais graves do que o desastre da Deepwater Horizon, ocorrido em 2010 no Golfo do México, quando mais de 3 milhões de barris de óleo foram despejados no mar. A conclusão é de um artigo assinado por pesquisadores do Brasil e da Espanha, que reúne evidências científicas sobre os riscos da exploração na região.

Segundo reportagem de O Globo, o estudo, publicado na revista Nature Sustainability, destaca que a combinação de correntes marinhas complexas, profundidade dos poços e fragilidade ecológica da Amazônia cria um cenário de alto potencial destrutivo caso ocorra um acidente.

Correntes e profundidade aumentam riscos

Os especialistas chamam atenção para um fator crítico: a profundidade dos poços na Margem Equatorial chega a 2,88 km quase o dobro do local do acidente da Deepwater Horizon.

— ARTIGO CONTINUA ABAIXO —

Isso, aliado a correntes fortes e cruzadas, tornaria qualquer tentativa de contenção muito mais difícil e demorada.

Modelos matemáticos indicam que plumas de óleo poderiam se estender por até 132 km em apenas 72 horas, alcançando áreas costeiras, reservas ambientais e comunidades dependentes da pesca.

Essa rápida dispersão comprometeria não apenas a biodiversidade marinha, mas também o abastecimento de água em zonas urbanas.

Amazônia e biodiversidade em perigo

O impacto não se limitaria ao mar. Pesquisadores apontam que a cadeia alimentar terrestre também sofreria consequências diretas.

Animais como as onças-pintadas das ilhas de Maracá e Jipioca, na costa do Amapá, têm sua dieta fortemente ligada a peixes, botos e aves marinhas, que poderiam ser dizimados por um derramamento.

Além disso, segundo o estudo citado por O Globo, a elevação do nível do mar e mudanças na acidez da água processos potencialmente acelerados pela exploração de petróleo poderiam afetar a produção de açaí na várzea amazônica, setor que movimentou mais de R$ 6 bilhões em 2023.

Comunidades tradicionais e economia local

Com cerca de 700 mil habitantes, o Amapá tem grande parte de sua população formada por indígenas, quilombolas e ribeirinhos que dependem da pesca e do extrativismo. Um acidente ambiental comprometeria não apenas a segurança alimentar, mas também a base econômica dessas comunidades.

Os cientistas alertam que royalties do petróleo dificilmente compensariam as perdas de longo prazo, seja na biodiversidade, seja na economia sustentável da região.

Como lembrou Philip Fearnside, do Inpa, “os benefícios econômicos seriam temporários, enquanto os danos ambientais poderiam ser permanentes”.

Falta de consenso entre especialistas

Nem toda a comunidade científica apresenta posição unificada. Enquanto o artigo publicado na Nature Sustainability defende a aplicação do princípio da precaução, um relatório recente da Academia Brasileira de Ciências considera que os impactos podem ser mitigados com medidas adequadas.

Essa divergência, no entanto, revela a escassez de estudos sistemáticos e revisados por pares sobre a região. Para os autores do novo artigo, a ausência de dados robustos deveria reforçar a cautela antes da tomada de decisões.

O debate sobre a Margem Equatorial vai além da promessa de royalties. Ele envolve riscos concretos de devastação ambiental, perda de biodiversidade e impactos sociais profundos para a Amazônia e o litoral brasileiro.

E você, acredita que o Brasil deve avançar com a exploração na Margem Equatorial mesmo diante de alertas de cientistas, ou o risco de um vazamento de petróleo é alto demais para ser ignorado? Deixe sua opinião nos comentários.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *