A China desenvolve uma plataforma, concebida para funcionar como uma verdadeira ilha móvel autônoma, capaz de permanecer no alto-mar por meses e resistir a impactos extremos.
O projeto combina elementos científicos, tecnológicos e estratégicos, com desenho pensado para operações em águas disputadas e condições meteorológicas severas.
Dados do projeto indicam capacidades inusitadas para uma infraestrutura marítima, e a matéria a seguir detalha dimensões, blindagem, autonomia e implicações geopolíticas, conforme informação divulgada pelo South China Morning Post.
Dimensões e capacidade operacional da plataforma
O protótipo, denominado “Instalação Flutuante de Pesquisa Permanente para Águas Profundas e Todas as Condições Meteorológicas”, também é conhecido como “Ilha Móvel Flutuante de Alto-mar”.
A estrutura terá 138 metros de comprimento e 85 metros de largura, com o convés principal elevado 45 metros acima da linha de água, e um deslocamento de 78 mil toneladas, dados revelados pela fonte.
Segundo as informações, a plataforma poderá alojar 238 pessoas durante quatro meses sem necessidade de reabastecimento, posicionando-se em escala próxima a navios de grande porte como o porta-aviões Fujian (80 mil toneladas), e abaixo apenas dos Nimitz dos EUA (100 mil toneladas).
Blindagem, metamateriais e defesa contra explosões nucleares
O elemento mais inovador do projeto é a capacidade declarada de suportar explosões nucleares, usando painéis especiais desenvolvidos a partir de metamateriais.
Os investigadores descrevem uma solução em sanduíche de painéis formados por elementos que transformam ondas de choque em compressões controladas, com uma antepara tridimensional de tubos ondulados com razão de Poisson negativa.
Os cientistas afirmam que “esta grande instalação científica em mar profundo foi concebida para garantir residência de longa duração em qualquer condição meteorológica”, e que o design inclui camadas que tornam o painel blindado mais eficaz do que aços convencionais, com cerca de 60 milímetros de espessura.
Autonomia, mobilidade e resistência a condições extremas
A plataforma foi projetada para operar em “estado de mar 7”, com ondas entre 6 e 9 metros, e para resistir a tufões até à categoria 17, de acordo com a descrição técnica divulgada.
Além da permanência prolongada, a estrutura tem mobilidade, conseguindo deslocar-se a 15 nós, o que permite manter operações científicas mesmo em trânsito e reposicionar a presença conforme necessidades políticas ou científicas.
Essa combinação de autonomia e mobilidade diferencia a infraestrutura de estações fixas, ao oferecer “presença sem permanência” em áreas marítimas sensíveis, segundo a reportagem.
Objetivos científicos, recursos e referência a normas militares
Oficialmente, Pequim apresenta a instalação como uma infraestrutura para observações oceânicas, ensaios de equipamentos marinhos e desenvolvimento de tecnologias de mineração do fundo do mar.
O projeto menciona explicitamente a norma militar chinesa GJB 1060.1-1991, que regula a resistência a explosões nucleares, o que sugere preparação para cenários extremos, mesmo sendo classificado como instalação de investigação civil.
Entre os objetivos técnicos, consta a exploração de tecnologias de mineração em profundidade, um ponto que ganha contornos estratégicos dada a riqueza de recursos em regiões disputadas, como o Mar do Sul da China.
Implicações geopolíticas e ambientais
Ao operar em áreas contestadas, a plataforma pode alterar o modo como Estados afirmam presença no mar, porque oferece mobilidade e capacidade de permanência sem aterros ou ilhas artificiais fixas.
Especialistas citados pela matéria alertam para os riscos geopolíticos relacionados a atividades de prospecção e mineração, já que o Mar do Sul da China é reivindicado por vários países e contém reservas de petróleo e gás.
Se a instalação cumprir as funções anunciadas, ela poderá transformar a investigação em mar profundo e a projeção de poder marítimo, ao combinar autonomia prolongada, mobilidade e reforços técnicos para cenários extremos.
