Em represália à sanha tarifária de Donald Trump, a China escalou até o cume de 125% (redução para 10% por 90 dias a partir de 14/5))  sua taxa para importar dos EUA gás liquefeito do petróleo (GLP). É utilizado na petroquímica chinesa como matéria-prima para propeno que, polimerizado, resulta em polipropileno (PP). Há poucos anos, a China tornou-se autossuficiente em PP (homopolímero) e estreou como exportadora de peso da resina para regiões como a América do Sul, condição acentuada pelo enfraquecimento do consumo doméstico. Análise postada em 1/5 pela consultoria Icis alerta para o risco de queda dos preços do GLP americano, advindo da decorrente necessidade de redirecionar suas exportações e do fato de a capacidade dos EUA para absorver GLP ser limitada, o que pressiona para o barateamento do gás, de modo a ser desovado a contento no mercado internacional.

A rota mais empregada na China (32% da capacidade efetiva) para gerar propeno é a da desidrogenação de propano (PDH), atesta o banco de dados da Icis. Quase toda a matéria-prima (caso de GLP) para essas unidades PDH é importada pela China, exceto alguns produtores com aceso ao propano de refinarias locais. Pelas estimativas contidas na avaliação publicada pela consultoria, a China importou 29.240 milhões de toneladas de propano em 2024, das quais 17.320 milhões (59%) dos EUA.

GLP é subproduto do petróleo e gás natural e, nos EUA, sua base de preços é orientada pela cena de mineração nas reservas da Bacia Permiana, cujo barril de óleo cru na categoria West Texas Intermediate (WTI) tende a permanecer na faixa de US$ 55-60, sustenta a aferição da Icis, sublinhando que, mesmo com a extração de petróleo dos EUA se estabilize até 2027, a produção local de gás natural, gases liquefeitos (como GLP) e de eteno continuarão a aumentar. Entre os motivos, consta o fato de os poços gerarem frações maiores de gases à medida em que envelhecem. No bojo dessas perspectivas ferventes, o levantamento da Icis atenta para o fato de o consumo de propano dos EUA não acompanhar a subida da sua produção, fechando 2024 na faixa de 750.000 barris/dia e a previsão da Icis é de 810.000 para este ano e 2026.

Debruçado sobre esse quadro geral sobressaltado, John Richardson, analista e blogueiro do site da Icis, postou em 6/5 artigo ponderando que, se mantiver a taxa de 125% para internar propano dos EUA – tal como ocorre com GLP – a China não conseguirá repor a curto prazo essas importações recorrendo a outras origens. Richardson reitera que uma parcela da ordem de 70% da produção chinesa de propano é canalizada para a produção de PP. Na esteira, a Icis projeta que o nível de ocupação de plantas PDH deve cair na China para a casa de 59% este ano versus 70% em 2024.  Mas essa queda, ressalva Richardson, não implicará escassez de propeno para PP na China, pois o país pode assegurar a disponibilidade doméstica do material pela via da ampliação da produção de crackers e refinarias atrelados à rota do carvão. Dada a turbulência em cena trazida pelas incertezas que pululam na guerra comercial, Richardson se esquiva de prever o saldo deste ano, mas cita no artigo que as exportações de PP pela China dispararam de 1.3 milhão de toneladas em 2023 para 2.4 milhões em 2024. Para ele, a China alcança plena autossuficiência na produção de PP entre um e três anos.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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