O vazamento químico que atingiu o Jardim Tulipas na última terça-feira (13) trouxe à tona um histórico de omissões do poder público. Relatórios obtidos pela reportagem mostram que, ainda em 2019, a CETESB havia alertado a antiga gestão municipal sobre os riscos ambientais da região. Nenhuma das medidas recomendadas foi efetivamente aplicada.

Na ocasião, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) identificou despejo clandestino de resíduos como tintas e solventes no sistema de águas pluviais, que desaguam diretamente nos lagos do Parque Botânico Tulipas. Os documentos, enviados à administração de Luiz Fernando Machado, recomendavam alterações estruturais urgentes, como o desvio da drenagem para evitar o contato com os corpos d’água.

Um dos ofícios, datado de 24 de junho de 2019, descrevia a situação como crítica, com odor forte, sedimentos escuros e manchas oleosas visíveis na superfície da água. A recomendação da CETESB era clara: interromper o lançamento de resíduos urbanos nos lagos e adotar mecanismos de contenção como caixas de retenção e separadores de água e óleo.

Em janeiro de 2020, um novo documento reforçou o alerta. A agência relatava uma série de ocorrências registradas no ano anterior, como o vazamento de 17 mil litros de óleo vegetal após um acidente na Rodovia dos Bandeirantes, a contaminação por efluente oleoso de um posto de combustível e o descarte indevido de espuma química usada no combate a incêndios. Nenhuma das ações corretivas propostas pela CETESB foi implementada.

A consequência dessa omissão se repetiu em 2023, quando outro caminhão-tanque derramou óleo diesel, novamente contaminando uma lagoa por meio do sistema de drenagem — que seguia sem adequações.

Agora, em 2025, o incidente químico que matou animais e exigiu uma força-tarefa ambiental representa mais uma consequência previsível da ausência de investimentos em infraestrutura. A atual administração, liderada por Gustavo Martinelli, mobilizou equipes técnicas, Defesa Civil, Polícia Ambiental e profissionais da DAE para conter o avanço da contaminação.

Apesar da resposta rápida, especialistas ouvidos pela reportagem destacam que a tragédia poderia ter sido evitada. O sistema de drenagem do Jardim Tulipas, um dos bairros mais populosos de Jundiaí, continua exposto a riscos, mesmo após anos de advertência.

O caso expõe um ciclo de negligência ambiental com impactos duradouros. E, mais uma vez, os moradores e o meio ambiente arcam com os prejuízos da omissão pública.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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