Chimoio (Moçambique) 31 Jul (AIM) – Cerca de 500 pescadores abandonaram a actividade pesqueira devido a poluição dos rios Révuè e Chicamba na província de Manica, centro de Moçambique.
A poluição dos rios surge devido ao garimpo desenvolvido por cidadãos nacionais e estrangeiros nas regiões localizadas a montante dos dois rios.
Nos últimos dias, tem-se registado o aumento da poluição das águas daqueles rios, situação que tem estado a causar a baixa produção de peixe, tilápia e outras espécies aquáticas e a produção agrícola ao longo das margens.
Segundo o Presidente do Conselho Comunitário de Pescas na Albufeira de Chicamba, Sibião Kunai, o problema está a gerar preocupação à população que reside nas zonas ribeirinhas, na sequência da contaminação do pescado por mercúrio.
“A contaminação constitui perigo para as comunidades, incluindo os consumidores de peixe. Portanto, é necessário que se encontre uma solução urgente sob o risco de acabarmos com a espécie de peixe existente nos rios Révuè e Chicamba. Para além de destruirmos as culturas dos produtores ao longo das margens dos dois rios” referiu Kunai, há dias.
Explicou que os garimpeiros artesanais e outros usam o mercúrio, bem como outros produtos que são nocivos para o peixe e até para os humanos. “Por isso, neste momento, temos o registo de muitas pessoas que estão a abandonar a actividade pesqueira nos dois rios”.
Referiu que o pescado destes dois rios apresenta uma baixa qualidade devido a população das águas e o uso de substâncias nocivas, odor e coloração também estranha, pelo que não é apropriado para o consumo humano.
“Mesmo as águas destes dois rios já não servem para irrigar os campos agrícolas nem para o uso diário pela população. Como resultado, centenas de famílias perderam suas culturas em campo, disse Kunai.
Na sua maioria, segundo a fonte, são garimpeiros estrangeiros. “Podemos ver que a actividade de garimpo não começou agora. É uma actividade antiga e os rios nunca haviam sido poluídos como actualmente. Para dizer que não são pequenos exploradores de ouro. Pelo que constatamos através da água, são exploradores industriais”.
Apelou para que os garimpeiros façam uma exploração em observância às regras para evitarem a poluição das águas.
Afirmou que o governo já tomou medidas a algumas empresas. Mas, mesmo assim, não foi possível resolver o problema de poluição dos rios.
O que está a acontecer, de acordo com Kunai, é que algumas empresas mudaram de zonas de exploração para outros lugares.
“Eles saíram de uma zona para outra. Mas a exploração contínua e de forma que consideramos ser irresponsável. O que queremos é que eles saibam que existem pessoas que têm a pesca como a sua principal actividade para o sustento. Saberem que essas pessoas também vivem da agricultura e a qualidade da água é importante para a produção agrícola”, disse.
Entretanto, há dias, o administrador marítimo nas províncias centrais de Sofala e Manica, Daniel Bango, reconheceu que a água dos rios Révuè e Chicamba está mais turva e com baixa qualidade, a cada dia que passa.
“Se a situação continuar assim, teremos problema, porque os pescadores não terão mais peixe. Também teremos o problema de circulação de crocodilos nas margens dos rios e da barragem. A forma como a água está poluída não dá para o peixe sobreviver. Os crocodilos e outros animais podem estar expostos e constituir perigo para a população”, anotou Bango, defendendo a conjugação de esforços para resolver o problema.
Aliás, para além de Révuè e Chicamba, o rio Púnguè, no distrito de Vanduzi, um dos principais cursos de água na província de Manica, também apresenta águas bastante turvas devido a exploração ilegal de ouro na zona a montante.
Nos últimos anos, aumentou a procura de ouro por parte de cidadãos nacionais e estrangeiros que se deslocam à província de Manica, estimando-se em dez mil pessoas envolvidas na actividade de garimpo, alguns dos quais organizados em associações e outros de forma individual.
Esta actividade é uma das principais fontes de renda para os residentes dos distritos de Manica.
Na província de Manica, os distritos ricos em recursos minerais, com destaque para o ouro, são Manica, Sussundenga, Báruè, Macossa, Tambara e Gondola”.
(AIM)
Nestor Magado (NM)/dt