Enquanto o forno aquece para o peru, o bacalhau ganha forma na panela e a salada de maionese espera na geladeira, um detalhe costuma passar despercebido nas cozinhas brasileiras durante as ceias nas festas de fim de ano. Pequenos descuidos no preparo dos alimentos criam um cenário perfeito para a proliferação de bactérias perigosas. E, muitas vezes, o problema só aparece dias depois, quando a comemoração já virou preocupação.
O período é marcado por pressa, excesso de tarefas e improviso. Nesse contexto, erros simples se repetem. A tábua usada para cortar o frango cru vira apoio para legumes. A pia recebe respingos da lavagem das carnes. Pratos prontos ficam tempo demais fora da geladeira. Somados, esses hábitos favorecem a chamada contaminação cruzada, uma das principais causas de infecções alimentares nesta época do ano.
Segundo o infectologista David Lewi, do Hospital Israelita Albert Einstein, o risco aumenta especialmente quando o alimento é comprado inteiro, algo comum no Natal e nas ceias. “As pessoas assumem comportamentos de risco sem perceber. O maior cuidado deve ser com carnes cruas, principalmente aves”, alerta.

Entre o peru e a maionese, cuidados essenciais para uma ceia tranquila. Foto: Divulgação
Carnes cruas são o principal foco de risco
Ao contrário do que muita gente imagina, não se deve lavar carnes cruas, como frango, peru, peixe ou carne bovina para as ceias. O ato espalha micro-organismos pela pia, bancadas e utensílios, ampliando o risco de contaminação.
O problema se agrava quando os mesmos utensílios são usados para alimentos crus e preparados. “A tábua, a faca e até o pano de prato usados na carne crua não podem ser reutilizados sem higienização adequada”, orienta Lewi. Tudo deve ser armazenado em potes fechados e mantido na temperatura correta.

O lado invisível da ceia: como evitar problemas comuns na cozinha. Foto: Divulgação
Sintomas não devem ser ignorados após a ceia
Diarreia, náusea, vômitos e dor abdominal não devem ser tratados como algo “normal” das festas. Embora comuns, infecções gastrointestinais podem evoluir para quadros graves, exigindo internação e tratamento intensivo.
Além disso, estudos recentes apontam uma relação pouco conhecida entre o preparo inadequado dos alimentos e o aumento de infecções urinárias. Pesquisa publicada na revista mBio revelou que 18% dessas infecções têm origem em bactérias presentes nos alimentos, especialmente a Escherichia coli.

Foto: Divulgação
As aves, principalmente o peru, aparecem como grandes vilãs. As bactérias foram identificadas no trato urinário feminino, o que acende um alerta importante para mulheres, que culturalmente ainda concentram grande parte do preparo das refeições.
Como reduzir os riscos e proteger a família
A boa notícia é que prevenir essas infecções depende de cuidados simples. Alimentos bem cozidos, acima de 75°C, eliminam bactérias perigosas. Utensílios usados em carnes devem ser exclusivos e esterilizados antes de serem guardados.
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Vegetais precisam ser higienizados corretamente, com solução adequada. Preparos frios, como maionese, devem permanecer refrigerados até o momento de servir. E atenção especial à limpeza da pia e das bancadas, que deve ir além do detergente comum. Água sanitária e desinfetantes são aliados importantes.
No caso de quem manipula aves inteiras ou realiza o abate doméstico, o cuidado precisa ser redobrado. O ideal é separar pias e superfícies para evitar a disseminação das bactérias.
Celebrar o fim de ano é essencial. Mas cuidar da saúde também faz parte da festa.
