A conclusão da investigação sobre a morte de uma mulher e a intoxicação de sua família em Belo Horizonte trouxe novamente ao debate a segurança dos alimentos que consumimos. O caso, que gerou grande comoção, revelou um descuido na elaboração de uma torta de frango em uma padaria na capital mineira, reacendendo um alerta sobre os perigos invisíveis que podem estar presentes no prato.
Leia: BH: laudo descarta que torta de frango tenha sido envenenada, diz advogado
Infelizmente, essa não é uma história isolada no Brasil. Nos últimos anos, diversos surtos de contaminação alimentar ganharam as manchetes, envolvendo desde grandes indústrias até pequenos comércios. Esses episódios deixaram um rastro de vítimas e serviram para expor falhas graves em processos de produção, armazenamento e manipulação de alimentos, gerando desconfiança e mudando hábitos de consumo.
A cerveja que se tornou um veneno
Um dos casos mais emblemáticos e trágicos ocorreu também em Minas Gerais, envolvendo a cervejaria Backer. Entre o final de 2019 e o início de 2020, dezenas de pessoas foram internadas com sintomas neurológicos e renais agudos, como paralisia facial, visão turva e insuficiência renal. Ao todo, 10 pessoas morreram e muitas outras ficaram com sequelas permanentes.
Leia: Três anos depois, vítimas do caso Backer aguardam julgamento da cervejaria
As investigações apontaram para a contaminação de tanques de cerveja por dietilenoglicol, uma substância tóxica usada no sistema de refrigeração da fábrica. Um vazamento teria permitido que o composto se misturasse à bebida, transformando um produto de lazer em um veneno silencioso. O episódio resultou em um recall massivo dos produtos, no fechamento temporário da fábrica e em um longo processo judicial para reparação das vítimas.
O achocolatado que assustou o país
Outro caso que marcou a memória dos brasileiros envolveu uma das marcas mais conhecidas de achocolatado infantil, a Toddynho. Em 2011, no Rio Grande do Sul, um lote do produto foi distribuído com um pH alterado, causando queimaduras na boca e no esôfago de consumidores, incluindo crianças. A sensação era de estar ingerindo um produto de limpeza.
A análise do lote contaminado confirmou a presença de detergente com pH 13, extremamente alcalino e corrosivo. A suspeita é de que tenha ocorrido uma falha no processo de limpeza dos equipamentos da fábrica, resultando no envase do produto químico. O incidente gerou pânico entre os pais e obrigou a empresa a retirar mais de 200 mil unidades do mercado, além de reforçar seus protocolos de segurança.
O cardápio escolar que levou à internação de alunos
Em setembro de 2022, cerca de 70 estudantes de uma escola estadual em Aracaju, Sergipe, foram hospitalizados com sintomas de intoxicação alimentar. O episódio causou preocupação entre pais e a comunidade escolar, já que as crianças apresentavam sintomas como vômito, diarreia e dores abdominais intensas.
As investigações conduzidas pela Vigilância Sanitária e pelo Laboratório Central de Sergipe (Lacen) apontaram a carne moída servida na merenda como a fonte do problema. A análise laboratorial confirmou um crescimento bacteriano no alimento, identificando a presença de microrganismos como Klebsiella sp. e Staphylococcus sp. A causa provável foi a falha no processo de refrigeração, que permitiu a proliferação dos germes. O caso obrigou a Secretaria de Educação a reforçar os protocolos de segurança alimentar nas escolas e a ampliar a equipe de apoio, visando garantir a qualidade das refeições oferecidas aos estudantes.
O que esses casos ensinam
Cada um desses episódios, embora distintos, aponta para a mesma direção: a cadeia de produção de alimentos é complexa e cheia de pontos críticos. Falhas podem ocorrer desde a matéria-prima, passando pelo processamento industrial, até a manipulação final em um restaurante, evento ou na própria cozinha de casa. A fiscalização por parte dos órgãos competentes é fundamental, mas a atenção do consumidor ao escolher onde e o que comer também desempenha um papel importante na prevenção.
Quais são as causas mais comuns de intoxicação alimentar?
As causas mais frequentes são biológicas, principalmente por bactérias como Salmonella, Escherichia coli e Staphylococcus aureus.
Esses micro-organismos se proliferam em alimentos malcozidos, mal conservados ou manipulados sem a higiene adequada. Há também as causas químicas, como a contaminação por agrotóxicos ou substâncias industriais.
Como a contaminação de alimentos pode ocorrer na indústria?
Na indústria, a contaminação pode acontecer por falhas em diversas etapas do processo. Vazamentos em equipamentos, como no caso da cervejaria Backer, podem misturar substâncias tóxicas ao produto final.
Outra possibilidade é a higienização inadequada das máquinas, que pode deixar resíduos de produtos de limpeza nos alimentos, como ocorreu com o achocolatado. A matéria-prima já contaminada também é um ponto de risco.
Alimentos caseiros são sempre mais seguros?
Não necessariamente. Embora o controle seja maior, o risco de contaminação em casa existe e é relevante. A manipulação incorreta é a principal causa.
O uso de ovos crus em receitas como maioneses, a contaminação cruzada (usar a mesma faca para carne crua e vegetais) e o armazenamento inadequado são erros comuns que podem causar intoxicações graves.
Quais são os principais sintomas de intoxicação alimentar?
Os sintomas mais comuns incluem náuseas, vômitos, diarreia, cólicas abdominais e febre. Eles podem surgir poucas horas ou até dias após o consumo do alimento contaminado.
Em casos mais graves, especialmente os causados por toxinas ou produtos químicos, podem ocorrer sintomas neurológicos, renais ou hepáticos. Ao sentir qualquer um desses sinais, é fundamental procurar atendimento médico.
O que as investigações sobre esses casos revelam?
As investigações geralmente apontam para falhas humanas ou sistêmicas nos processos de segurança alimentar. Elas revelam desde negligência na manutenção de equipamentos até a falta de treinamento de manipuladores de alimentos.
Esses desfechos reforçam a importância de uma fiscalização rigorosa por parte dos órgãos de vigilância sanitária e da responsabilidade das empresas e comerciantes em seguir as boas práticas de produção e higiene.