A Agência Portuguesa do Ambiente está a apoiar municípios na colocação de filtros naturais nas linhas de água. O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado, explicou esta semana que o trabalho de “está a ser feito em todas as zonas afectadas” pelos incêndios de Agosto.
Este “é o trabalho de emergência que tinha de ser feito já, antes das chuvas fortes, que são agora a grande preocupação, depois há um outro a realizar, mais estruturado, como a recuperação do leito e outras infraestruturas”, adiantou o responsável, “para proteger a qualidade da água e, em particular, os locais onde existe captação de água para abastecimento público”.
Trata-se de um trabalho com “alguma inovação, com recurso sempre a soluções de base natural”.
A APA pretende também reforçar a monitorização para garantir que a água que está a chegar às captações tem qualidade. “Isto é, vamos aumentar a frequência, o número de parâmetros físico-químicos para controlar a qualidade das massas de água. É um trabalho muito importante”, realçou Pimenta Machado.
No final da semana passada, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, tinha anunciado que “a APA já está a trabalhar em vários sítios, como o ICNF. “Estão em causa os nossos principais rios, o Douro, o Mondego, os afluentes do Tejo e, portanto, temos que actuar muito rapidamente”, afirmara neste sábado. “Há imenso trabalho a fazer: temos de nos concentrar nas obras urgentes e que apresentam maior risco. E é para começar já na retenção dos solos, para evitar derrocadas, e para evitar que haja a contaminação da água.”
Seis barragens em risco no Norte
A Águas do Norte revelou na sexta-feira que as barragens do Alvão e do Sordo (Vila Real), Touvedo/São Jorge (Arcos Valdevez), Vilar (Moimenta da Beira/Sernancelhe) e Ferradosa (Freixo de Espada à Cinta) podem ser contaminadas por cinzas devido aos incêndios.
No âmbito do esforço nacional de resposta aos riscos acrescidos que as cinzas dos incêndios representam para os recursos hídricos, a Águas do Norte explica que, em articulação com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), identificou as seguintes origens de água e respectivas afluências com maior risco de contaminação por cinzas, tendo sido considerado prioritária a actuação na barragem da Ferradosa, explica a empresa em comunicado.
Na Albufeira da Ferradosa foi considerado “prudente a implementação de medidas de estabilização de emergência, que permitem a retenção/deposição das cinzas”, tendo sido aplicado uma manta geotêxtil em quatro linhas de água por forma a conter a mobilização de cinzas e sedimentos e assim proteger as massas de água da albufeira.
Questionada sobre o procedimento nesta albufeira, fonte da empresa explicou que o geotêxtil “é um tecido permeável, feito de fibras sintéticas (como poliéster ou polipropileno), projectado para desempenhar funções técnicas no solo e na água” e que a sua aplicação “junto a linhas de água afluentes às albufeiras, actua como meio de filtração e drenagem, permitindo o escoamento da água sem arrastar partículas finas, como a cinza, protegendo as massas de água”.
A Águas do Norte elogiou a parceria com a APA, definindo-a como “crucial para a definição das medidas a implementar no terreno, que de forma atempada possibilitou a protecção dos recursos hídricos, destacando-se assim o papel fundamental do trabalho em parceria para a sustentabilidade desta região”.
A empresa refere que tem vindo a “reforçar a monitorização da qualidade da água nas origens” e que esta “vigilância intensificada permite uma resposta mais célere a potenciais contaminações e assegura a protecção da saúde pública”.
Barreiras em Arganil para evitar contaminação
Também em articulação com a Agência Portuguesa do Ambiente, a Águas do Centro Litoral (AdCL) instalou barreiras em sistemas de abastecimento de água no concelho de Arganil para impedir que contaminantes cheguem às infraestruturas de tratamento de água na sequência dos incêndios.
“Com o objectivo de minimizar os impactos da deposição de cinzas, fragmentos de vegetação nos meios hídricos, a AdCL procedeu à instalação de barreiras físicas em três sistemas de abastecimento de água: Pomares, Vila Cova e Alagoa”, no concelho de Arganil, distrito de Coimbra, revelou a empresa num comunicado enviado na quarta-feira.
Segundo a mesma fonte, as barreiras foram colocadas em pontos estratégicos, junto às captações, funcionando como filtros naturais, que impedem a chegada de contaminantes às infra-estruturas de tratamento. “Estas soluções revelam-se determinantes para assegurar que a água que chega às populações se mantenha em quantidade e segura e em total conformidade com os requisitos legais e de saúde pública”, salientou a AdCL.
Estas barreiras passam pela colocação, em rios ou ribeiras, de geotêxtil, que permite reter material resultante dos incêndios.
“Estas medidas visam reforçar a resiliência dos sistemas de abastecimento em situações de incêndio, permitindo salvaguardar não apenas a qualidade da água, mas também a confiança das populações no serviço público prestado”, acrescentou.
Um incêndio deflagrou no dia 13 de Agosto em Piódão, no concelho de Arganil, entrando em resolução no dia 24, ao fim de 11 dias. Este fogo afectou também os concelhos de Pampilhosa da Serra e Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra), Seia (Guarda) e Castelo Branco, Fundão e Covilhã (Castelo Branco).
Autarcas pedem celeridade nas acções
No final de Agosto, durante uma visita da ministra do Ambiente e Energia às áreas afectadas pelos fogos, os autarcas da região das Beiras e Serra da Estrela e de Dão-Lafões afirmaram esperar celeridade na concretização dos projectos de estabilização das encostas ardidas e na protecção das linhas de água das cinzas deixadas pelos fogos.
É preciso “criar já equipas” com o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para ir para o terreno, assim como “fazer os levantamentos e executar já, não estar à espera que o ICNF autorize ou que licencie”, disse Vítor Proença, presidente da Câmara do Sabugal, à agência Lusa no final da reunião realizada em Trancoso com a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho.
O autarca do município raiano do distrito da Guarda, onde arderam cerca de 24 mil hectares em meados deste mês, lembrou que não tarda “temos aí as primeiras chuvas e não pode haver entraves, porque a cinza vai contaminar as linhas de água e criar problemas gravíssimos”.
Amílcar Salvador, autarca de Trancoso, também manifestou a mesma preocupação. “Temos que garantir que este manto de cinzas que ficou nos nossos concelhos não venha a contaminar a rede de abastecimento pública. É um problema que temos agora em mãos, que nos preocupa muito, bem como a erosão dos solos”, afirmou à agência Lusa.
Na sua opinião, é necessário “agilizar processos, procurar acelerar o mais possível, porque as primeiras chuvas poderão vir em breve”.
No caso de Trancoso, onde arderam quase 49 mil hectares, a situação mais preocupante é a albufeira da Teja, que abastece todo o concelho, e cujas margens arderam totalmente.
Em Aguiar da Beira, também no distrito da Guarda, mas integrante da Comunidade Intermunicipal de Dão-Lafões, é a barragem da Fumadinha que preocupa. “Todo o seu perímetro foi atingido pelo incêndio e temos que fazer, com urgência, este trabalho para segurar o arrastamento de cinzas que possa vir a ocorrer em direcção à barragem”, declarou o presidente da Câmara, Virgílio Cunha.
O autarca aguiarense mostrou-se optimista com as medidas apresentadas pela ministra do Ambiente, constatando que “há interesse em facilitar os processos de intervenção no terreno”.
“Ficámos com a convicção que o parecer da APA será muito célere, muito simultâneo com o tempo em que apresentamos o próprio projecto. Acredito que o processo vai ser mais rápido porque abolimos alguma burocracia e a necessidade de alguns pareceres, nomeadamente para aquelas intervenções de menor impacto no terreno”, admitiu.
“Pergunte-me depois do Inverno”
Menos optimista estava Luciano Ribeiro, presidente da Câmara de Seia, município afectado pelo incêndio que começou no Piódão e atravessou o Parque Natural da Serra da Estrela.
“Pergunte-me depois do Inverno se valeu ou não a pena esta reunião”, começou por responder à agência Lusa.
O autarca serrano lembrou que esta situação não é novidade para muitos dos autarcas que participaram na reunião, em Trancoso. “Muitos de nós sabemos o que é preciso fazer e como fazer, fruto do que tem acontecido nos últimos anos. O que pedimos é menos constrangimentos burocráticos – e não me pareceu estar tudo ainda dentro do mesmo diapasão”, assumiu.
Luciano Ribeiro disse esperar que surjam “problemas burocráticos posteriores às intervenções físicas”, adiantando que no seu concelho há diversas linhas de água em risco e zonas muito declivosas.
“Em 2005, tivemos uma experiência devastadora no pós-incêndio, em particular na Ribeira de Alvoco, e portanto há a necessidade de intervir imediatamente nalguns sítios que sabemos que são mais críticos, mais perigosos para as populações, tendo a noção que é impossível salvaguardar todas as linhas de água, de escorrência ou principais. Depois, por aquilo que percebi, logo se vê se temos apoios do Governo”, disse.
O autarca de Seia reiterou que tudo vai depender de “quando chover”, tendo adiantado que o município já está a trabalhar nalgumas intervenções prioritárias. “Vamos tentar minimizar e mitigar os riscos para as populações e para os seus bens, em particular naquelas zonas de maior prejuízo futuro”, garantiu. com Lusa