Um ano após o acidente aéreo que resultou na morte de 62 pessoas em Vinhedo (SP), novas revelações surgem sobre as condições da aeronave envolvida. De acordo com depoimento exclusivo de um ex-funcionário da Voepass ao g1, uma falha no sistema de degelo do avião ATR 72-500 foi relatada verbalmente por um piloto na noite anterior ao voo fatal, mas não foi registrada no diário de bordo técnico (TLB), o que permitiu que a aeronave decolasse sem inspeção adequada. Essa omissão pode ter contribuído para o desastre ocorrido em 9 de agosto de 2024, durante o voo 2283 de Cascavel (PR) para Guarulhos (SP).

O acidente é considerado o mais grave na aviação brasileira desde 2007, quando um avião da TAM colidiu em Congonhas, matando 199 pessoas. No caso da Voepass, o ATR 72-500, matrícula PS-VPB, caiu em uma área residencial de Vinhedo após perder altitude abruptamente. Relatórios preliminares do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) indicam que os pilotos mencionaram uma falha no sistema de degelo durante o voo, com alertas de “bastante gelo” registrados na caixa-preta. O Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) 121 exige que sistemas de proteção contra gelo estejam operacionais para voos em condições meteorológicas propícias à formação de gelo, como as registradas no trajeto.

De acordo com o depoimento, o piloto do voo anterior (2293), que chegou a Ribeirão Preto (SP) por volta da 1h da madrugada, reportou verbalmente problemas no “airframe fault” – um alerta que indica falhas no degelo. No entanto, sem registro formal no TLB, a equipe de manutenção não investigou a pane. “Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha. […] Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer”, afirmou a testemunha ao g1.

A cronologia dos eventos, baseada em dados do Flightradar e no relato, inclui:

  • 00h12: Saída de Guarulhos para Ribeirão Preto.

  • 1h00: Pouso em Ribeirão Preto, com relato verbal da falha.

  • Entre 1h e 5h30: Manutenção básica no hangar, sem investigação da pane.

  • 5h32: Decolagem para Guarulhos.

  • 8h20: Saída de Guarulhos para Cascavel.

  • 11h56: Decolagem de Cascavel para Guarulhos.

  • 13h22: Queda em Vinhedo.

Especialistas, como o doutor em engenharia aeronáutica James Waterhouse, da USP, enfatizam que a inoperância do sistema de degelo inviabiliza voos em condições de gelo severo. “O avião tem que comprovar a capacidade de voar com segurança em condição de formação de gelo severo“, explicou Waterhouse.

Investigações recentes, reportadas por veículos como O Globo e ISTOÉ em 2 de agosto de 2025, revelam que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cassou o Certificado de Operador Aéreo da Passaredo Transportes Aéreos, empresa do grupo Voepass, devido a “falhas graves e persistentes” no Sistema de Análise e Supervisão Continuada (SASC). Essa decisão ocorreu na última semana, destacando problemas sistêmicos na manutenção da companhia.

Dois ex-funcionários relataram um ambiente de pressão pela liberação rápida de aeronaves, independentemente de falhas, o que corrobora o depoimento inicial. “Funcionários eram pressionados pela diretoria a evitar que aeronaves ficassem paradas para manutenção”, disse a testemunha ao g1, mencionando equipes reduzidas e adiamentos via ação corretiva retardada (ACR).

O Correio 24 Horas, em reportagem de 2 de agosto de 2025, reforça que o avião apresentou problemas anteriores, incluindo no sistema de despressurização, com relatos de tripulantes sobre ruídos insuportáveis durante voos.

Além disso, o g1 lançou, em 31 de julho de 2025, o documentário “81 segundos”, que reconta a tragédia com entrevistas de familiares e áudios inéditos da caixa-preta. O título refere-se ao tempo de queda da aeronave, e o material busca homenagear as vítimas e analisar as causas.

A Polícia Federal (PF) investiga possíveis crimes relacionados ao acidente, com foco em condutas que contribuíram para a queda. O delegado Edson Geraldo de Souza afirmou que a PF já identificou mecanicamente o que levou à queda, mas analisa a “contribuição humana”, incluindo rotinas de manutenção e procedimentos de emergência.

A Voepass, em nota oficial, afirmou priorizar a segurança e destacou apoio às famílias das vítimas, com comitês de crise e suporte psicológico. A empresa colabora com as investigações e nega irregularidades, mencionando seus 30 anos sem acidentes graves até então.

A Anac confirmou que a aeronave estava com documentos válidos e que monitora operadores via auditorias. Denúncias sobre manutenção estão em apuração, com possíveis sanções se irregularidades forem comprovadas.

Essas revelações destacam a necessidade de maior rigor na supervisão da aviação civil no Brasil, especialmente em contextos de pressão operacional.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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