Em 2024, o Brasil consolidou avanços significativos na agenda ESG (Environmental, Social, and Governance), demonstrando um compromisso crescente com a sustentabilidade em um cenário global mais consciente. De políticas públicas robustas a iniciativas empresariais inovadoras, o país deu passos importantes em direção a um futuro mais sustentável. No entanto, desafios estruturais ainda demandam atenção e ação contínua.
Eventos que Marcaram a Agenda ESG no Brasil e no Mundo
Este ano foi palco de diversos eventos que impulsionaram o debate e as ações em ESG. No Brasil, o ‘ESG Land’ reuniu participantes em imersões e atividades voltadas à evolução de suas práticas ESG, enquanto o ‘Líderes Sustentáveis’ promoveu o desenvolvimento integrado e sustentável de negócios e comunidades, conectando cidades e startups em debates frutíferos. O ‘Summit ESG’ destacou as melhores práticas nos setores público e privado. Já o ‘Rio Innovation Week’ reafirmou a inovação e a tecnologia como impulsionadores cruciais para negócios mais sustentáveis.
Internacionalmente, a agenda foi igualmente intensa. A ‘COP 29’, realizada em Baku, Azerbaijão, abordou o financiamento climático como tema central, reforçando a urgência de ações globais coordenadas. A ‘Climate Week’, em Nova York, reuniu líderes globais para discutir soluções práticas às mudanças climáticas. A ‘16ª COP da Biodiversidade’, na Colômbia, destacou a conservação como pilar essencial da sustentabilidade, enquanto o evento ‘Rumo ao Net Zero’, nos Estados Unidos, explorou estratégias para alcançar a neutralidade de carbono.
Eventos como o ‘BID Investor Sustainability Week’ e as discussões no encontro do G20, no Brasil, reforçaram a necessidade de práticas sustentáveis em escala global. O G20 enfatizou a importância da ação coletiva contra as mudanças climáticas, a desigualdade social e pela melhoria da governança global.
Avanços Marcantes em Sustentabilidade
O governo federal destinou mais de R$ 100 bilhões para financiar projetos de sustentabilidade por meio de títulos verdes, enquanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) implementou novas regras de divulgação ESG, alinhando-se a padrões internacionais estabelecidos pelo International Sustainability Standards Board (ISSB). Esses esforços visam aumentar a transparência e a credibilidade dos relatórios de sustentabilidade, com a obrigatoriedade prevista até 2026.
Empresas também avançaram. Um pacto liderado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBEDS), com 54 signatárias, impulsionou metas climáticas mais ambiciosas. No setor de mineração, a fiscalização intensificada reduziu em 84% a extração e comercialização ilegal de ouro. Além disso, a gestão de cadeias de suprimentos ganhou destaque, com foco em evitar trabalho infantil e condições análogas à escravidão.
O Brasil se prepara ainda para o mercado regulado de carbono. A Lei 15.042/24, sancionada em dezembro, criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que promete movimentar bilhões nos próximos anos. A transição para esse modelo regulado é um marco importante para atender às metas climáticas globais e integrar justiça social e sustentabilidade.
Desafios Persistentes e Comparações Internacionais
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, como o combate ao desmatamento na Amazônia e a redução das desigualdades sociais. Enquanto políticas afirmativas e comitês de diversidade promovem ambientes mais inclusivos, os problemas estruturais persistem e requerem políticas públicas mais robustas.
No âmbito internacional, benchmarks como a Suécia e a Alemanha continuam a liderar em práticas sustentáveis. A Suécia destaca-se por suas políticas de economia circular e uso eficiente de recursos, enquanto a Alemanha é exemplo de transparência e governança. Esses modelos oferecem lições valiosas que o Brasil pode adotar para acelerar seu progresso.
Projeções para o Futuro
O mercado de carbono brasileiro é promissor. Projeções da consultoria McKinsey indicam que o setor pode gerar até US$ 120 bilhões entre 2030 e 2040, com o Brasil atendendo até 15% da demanda global. Esses números reforçam o potencial do país para se posicionar como líder global em soluções climáticas.
Conclusão: Uma Agenda para 2025
O ano de 2024 mostrou que o Brasil é capaz de avançar em sua agenda ESG com políticas públicas estruturadas, compromissos empresariais e ações concretas. No entanto, a superação de desafios, como a desigualdade social e o desmatamento, será crucial para consolidar esses avanços.
Para 2025, é essencial continuar investindo em transparência, inclusão social e práticas sustentáveis, além de alinhar-se aos benchmarks internacionais. Com uma abordagem holística, o Brasil pode não apenas cumprir suas metas climáticas, mas também promover um futuro mais justo e sustentável para todos.
Gláucia Fernandes é professora Adjunta de Finanças do COPPEAD/UFRJ. Graduada em Economia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), é mestre em Economia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e doutorada e pós-doutorada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Foi Visiting Scholar no Departamento de Finanças da McCombs School, na Universidade do Texas em Austin. Lecionou no MBA Executivo em Administração: negócios do setor elétrico da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do qual também foi coordenadora. Atuou por 5 anos como pesquisadora de energia do centro de pesquisa FGV Energia. Apresentou artigos em importantes conferências nacionais e internacionais, bem como publicou artigos em importantes journals.
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