Prefeituras de municípios cortados pelo Rio Paraopeba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, emitiram um alerta para a população não pescar, consumir ou comercializar peixes retirados do rio até que os laudos laboratoriais apontem a causa da mortandade registrada desde o último sábado (6/9). A análise laboratorial da água, dos sedimentos e das carcaças está em andamento e deve levar até dez dias para ser concluída.
Em Pompéu, a mais de 50 quilômetros do último ponto onde os peixes foram encontrados mortos, a prefeitura divulgou o comunicado nas redes sociais nesta quinta-feira (11/9). “Essa é uma ação preventiva para proteger a saúde de todos. A Prefeitura de Pompéu segue acompanhando de perto a situação e trará novas atualizações assim que houver laudos técnicos sobre a causa”, diz a nota.
Medidas semelhantes foram tomadas em Paraopeba, Mateus Leme e Esmeraldas, reforçadas pelas Defesas Civis locais.
O alerta surgiu após a morte de mais de 4 mil peixes em um trecho de aproximadamente 17 quilômetros do rio, desde Juatuba até Esmeraldas. O fenômeno, que começou a ser percebido no sábado, a jusante da foz do Rio Betim com o Paraopeba, tem como principal hipótese a contaminação química na madrugada da sexta-feira (5/9).
“Ainda não sabemos quais substâncias químicas foram despejadas ao longo do rio Paraopeba para causar essa mortandade. O consumo dessas espécies pode trazer sérios prejuízos à saúde pública”, afirmou ao Estado de Minas o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH Paraopeba), Heleno Maia.
Imagens feitas pela reportagem nessa quarta-feira (10/9) mostram centenas de carcaças acumuladas em pontos como a Fazenda da Ponte, em Esmeraldas. A contaminação, no entanto, não é visível a olho nu. Em alguns trechos, a água aparenta estar límpida, sem alteração de cor, mas esconde uma ameaça silenciosa que tem deixado rastros às margens do rio.
Impacto ambiental grave
A mortandade preocupa ambientalistas pela diversidade das espécies afetadas. Foram encontrados surubins de até 40 quilos, piranhas, cascudos e até exemplares do pacamã, peixe noturno que integra a lista de espécies ameaçadas de extinção. “Esses animais já convivem há anos com a contaminação por metais pesados oriundos do rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, além do esgotamento sanitário. São espécies adaptadas a cenários adversos, mas agora não resistiram”, explicou Heleno Maia.
Para o Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), o novo episódio aprofunda a sensação de abandono na região. “A cena reforça o medo e a insegurança que marcam a vida das comunidades atingidas desde o rompimento da barragem”, destacou a entidade em nota, informando que encaminhará notificação urgente aos órgãos competentes.
Hipóteses em análise
Os órgãos ambientais suspeitam de uma contaminação criminosa. “Ainda não sabemos do que se trata, mas acreditamos que será possível identificar os responsáveis com mais facilidade, já que o ponto de origem parece estar concentrado na foz do Rio Betim. A gente sabe que partiu dali, resta saber se veio diretamente da margem ou se desaguou pelo Betim”, completou.
A origem da contaminação ainda é incerta, mas algumas hipóteses já foram descartadas. Segundo o presidente do CBH Paraopeba, não há indícios de ligação com o desastre de Brumadinho. “Se fosse algo ligado ao rompimento da barragem, a contaminação teria surgido a montante, mas o que observamos foi o contrário. O ponto inicial está a jusante da foz do Rio Betim, distante da área do rompimento”, afirmou Maia.
Também foi considerada a possibilidade de descargas industriais, mas essa linha perdeu força. “Cogitou-se que poderia ser alguma indústria de bebidas, mas já verificamos que a empresa não faz descarte no local. Se fosse o caso, teríamos sinais também no Ribeirão Serra Azul, o que não aconteceu”, acrescentou o presidente do CBH.
Maia informou que pretende verificar se o episódio tem relação com o aumento de casos de diarreia aguda em Contagem, na Grande BH. Moradores denunciaram recentemente que a água encanada em algumas regiões chegava com cheiro e gosto de barro.
Em nota, a Copasa negou anomalias e disse que o problema não está ligado à sua rede de operação, mas informou que está atuando em conjunto com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e com a Polícia Militar Ambiental na investigação da mortandade de peixes. “Neste momento, a empresa contribui com o monitoramento da qualidade da água e auxilia na identificação das possíveis causas do ocorrido”, ressalta o texto.
Monitoramento contínuo
Equipes do comitê e da Defesa Civil percorrem o rio para mapear a extensão do problema. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) também coletou amostras emergenciais, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente (Semad), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Polícia Militar de Meio Ambiente.
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Em nota, divulgada nessa quarta, a Semad informou que medidas de mitigação só serão adotadas após a conclusão dos laudos. “As medidas para mitigar os impactos ambientais serão definidas a partir dos resultados das investigações e do monitoramento contínuo realizado pelos órgãos competentes”, disse a pasta.