O universo acaba de abrir uma janela rara para os processos mais íntimos das estrelas massivas. Ao analisar a supernova SN 2021yfj, os astrônomos conseguiram observar diretamente camadas internas que antes só existiam em modelos teóricos, oferecendo insights valiosos sobre a origem dos elementos que compõem nosso planeta e nossos corpos.
A “cebola cósmica” revelada
Estrelas massivas geram energia por fusões sucessivas: do hidrogênio ao hélio, depois carbono, oxigênio, néon, silício e, finalmente, ferro. Esse processo cria camadas concêntricas, semelhantes a uma cebola. Quando o núcleo de ferro se forma, ele colapsa, desencadeando a supernova. Até agora, apenas camadas externas, ricas em hidrogênio, hélio e carbono, podiam ser estudadas pelos telescópios.
Uma camada interna sem precedentes
A SN 2021yfj apresentou algo único: a ejeção de uma espessa camada de silício e enxofre, formada meses antes do colapso estelar. É a primeira evidência direta desse nível interno, permitindo “olhar” para o coração de uma estrela pouco antes de sua morte. Os astrônomos sugerem que a interação gravitacional com uma estrela companheira pode ter arrancado violentamente essas camadas.
Implicações cósmicas
Esse achado é relevante porque todos os elementos que formam nosso corpo e planeta foram forjados em processos estelares. Observar silício e enxofre confirma que a produção de elementos pesados é mais diversa do que se pensava e que sistemas binários desempenham um papel crucial nesse processo.
Desafio para a teoria
Os modelos atuais de perda de massa estelar não explicam completamente como a SN 2021yfj liberou essa camada interna. Pode ter ocorrido uma transferência de matéria extremamente eficiente ou algum mecanismo ainda desconhecido. Resolver esse mistério permitirá ajustar os modelos de evolução estelar e compreender melhor a distribuição de elementos no universo.
Uma viagem ao surgimento da vida
A luz dessa supernova viajou milhões de anos até chegar aos telescópios. Analisar seu espectro equivale a viajar no tempo e presenciar os processos que criaram os ingredientes da vida. O oxigênio que respiramos e o silício presente na crosta terrestre têm origem em explosões estelares semelhantes.
A SN 2021yfj abre uma janela inédita para o interior das estrelas e a “fábrica cósmica” que construiu nosso mundo. Ao revelar a camada de silício e enxofre, o universo expôs um segredo guardado por bilhões de anos: o coração de uma estrela massiva pouco antes de seu colapso. Para os astrônomos, trata-se do início de uma nova era na exploração estelar.