Pela primeira vez, astrônomos detectaram uma erupção estelar forte o suficiente para devastar a atmosfera de um planeta próximo.

Cientistas têm procurado ejeções de massa coronal para ajudar a determinar se outra estrela poderia se aproximar do Sistema Solar e abrigar planetas habitáveis.

Quando o Sol envia essas ejeções em direção à Terra, elas interagem com o campo magnético do nosso planeta e o resultado pode ser o surgimento de auroras, a exemplo do que ocorreu na semana passada.

Mas tempestades geomagnéticas severas também podem causar interrupções em sistemas tecnológicos e em redes de energia.

E, se forem frequentes e poderosas o suficiente, explosões estelares podem erodir a atmosfera de um planeta e eliminar as condições necessárias para a vida, sobretudo quando agem sobre um campo magnético fraco, como o de Marte.

“Não temos ideia de com que frequência esses tipos de explosões acontecem em outras estrelas”, afirmou o radioastrônomo Joe Callingham, do Instituto Holandês de Radioastronomia e professor associado da Universidade de Amsterdã. Ele coliderou o novo estudo que saiu na última quarta (12) na revista Nature. “Se você quer encontrar um planeta semelhante à Terra em algum outro lugar, precisamos saber com que frequência essas coisas acontecem.”

Callingham afirmou que sua equipe encontrou a primeira evidência incontestável de tal evento, uma descoberta que cientistas têm perseguido a décadas, mas que só recentemente se tornou possível graças ao desenvolvimento de melhores instrumentos e técnicas de análise de dados.

A astrônoma Orsolya Eszter Kovacs, que não participou da pesquisa, caracterizou o estudo como “um grande passo” e a “primeira prova clara” de que o plasma quente pode se libertar não apenas do campo magnético do Sol, mas do de outra estrela.

A erupção objeto do novo estudo foi enorme e, em alguns aspectos, excedeu as ejeções mais poderosas do Sol, segundo o astrônomo Cyril Tasse, do Observatório de Paris (França), que coliderou o estudo.

“Nosso Sol é tranquilo em comparação [a ela]”, disse Tasse. “A atmosfera da Terra provavelmente já teria sido destruída há muito tempo se estivéssemos vivendo perto dessa estrela.”

Felizmente para nós, essa estrela está a cerca de 130 anos-luz de distância.

A equipe de pesquisa procurou especificamente erupções em torno de anãs vermelhas, o tipo mais comum de estrela em nossa galáxia e alvos principais na busca por vida além da Terra. Algumas delas têm planetas em órbitas próximas, potencialmente em zonas onde as condições podem não ser nem muito quentes nem muito frias para serem habitáveis.

Embora as anãs vermelhas sejam apenas uma fração do tamanho da nossa estrela hospedeira e muito mais escuras, seus campos magnéticos são centenas de vezes mais fortes. Elas estão associadas a intensas erupções e outras atividades que podem comprometer as perspectivas de vida nas proximidades.

Os pesquisadores examinaram um grupo de aproximadamente 50 estrelas com o radiotelescópio Low Frequency Array (Lofar).

Tasse e seus colegas desenvolveram modelos matemáticos e técnicas para analisar centenas de milhares de pontos de dados espectrais de estrelas, uma tarefa que ele comparou ao uso de uma rede de pesca em vez de uma vara. O processo foi projetado para detectar emissões de rádio de planetas fora do nosso Sistema Solar, mas ele disse que foi uma agradável surpresa que também pudesse detectar emissões de erupções estelares.

A equipe mediu um sinal de rádio intenso com duração de aproximadamente dois minutos e meio, considerado um sinal revelador de uma ejeção de massa coronal. Quando a erupção —que consiste em gás ionizado superaquecido e fragmentos de campo magnético— é expelida da camada externa de uma estrela para o espaço, ela cria uma onda de choque e uma explosão de ondas de rádio.

“A detecção clara de uma explosão de rádio estelar do tipo dois tem sido há muito tempo procurada como um indicador de ejeções de massa coronal em outras estrelas”, afirmou o astrofísico Kevin France, da Universidade do Colorado em Boulder (EUA), que não participou do estudo. “Essa detecção fornece o que provavelmente é a evidência mais forte até agora de que esse fenômeno ocorre além do Sistema Solar.”

A equipe estimou que a erupção era muito densa e extremamente rápida. Ela se moveu a 2.400 quilômetros por segundo, o que é observado em apenas 1 a cada 20 ejeções de massa coronal do Sol. Também foi cerca de cem vezes mais luminosa do que qualquer coisa que os astrônomos já viram no Sol. Em termos de massa expelida, foi tão forte quanto qualquer erupção solar.

De fato, a explosão foi do nível de uma das maiores erupções já registradas no Sol, conhecida como evento de Carrington, segundo Callingham.

Os cientistas frequentemente usam o evento de Carrington de 1859 como referência para a tempestade geomagnética mais intensa observada na Terra: auroras apareceram em pontos incomuns, pessoas e animais acordaram como se fosse manhã e sistemas de telégrafo foram derrubados em todo o mundo.

“Seria algo como [o evento de Carrington] ou pior, derrubando comunicações espaciais”, citou Callingham. “As telecomunicações estariam em situação crítica se a Terra fosse atingida por algo semelhante ao que observamos nessa estrela.”

Tasse afirmou que ficou surpreso com a potência gerada pela estrela. Embora a anã vermelha tivesse apenas metade da massa do Sol, seu campo magnético era 300 vezes mais forte, tornando-a semelhante a um “balde de plasma magnetizado em ebulição”.

Os cientistas agora analisam com que frequência essas erupções podem ocorrer em outras estrelas, de acordo com Callingham. Algumas nações estão trabalhando juntas para construir o maior conjunto de telescópios do mundo, o Square Kilometer Array, que deverá ser capaz de detectar mais erupções de estrelas distantes para entender melhor a frequência de tais erupções.

Callingham sugeriu que eventos tão severos poderiam acontecer no próprio Sol uma vez a cada 500 anos, algo raro para os humanos, mas bastante comum em escala geológica. “Um dia, veremos algo ainda mais forte que o evento Carrington.”

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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