O mais recente relatório sobre a qualidade da água do Córrego Santa Bárbara, em Padre Bernardo (GO), mostra que a contaminação provocada pelo desmoronamento de uma pilha de resíduos do lixão da Ouro Verde apresentou redução, mas ainda permanece acima dos padrões permitidos pela legislação ambiental.

O documento, entregue à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) em 23 de outubro, aponta melhora parcial das condições do córrego após medidas emergenciais, embora destaque que o ambiente segue vulnerável à presença de substâncias tóxicas.

Contaminação do Córrego Santa Bárbara

O estudo avaliou amostras de água coletadas entre julho e setembro em quatro pontos localizados abaixo da área do lixão, abrangendo trechos do Córrego Santa Bárbara e do Rio do Sal. Os resultados indicam que os pontos mais próximos ao lixão, denominados P2 e P3, continuam sendo as áreas de maior risco, com variações nos níveis de metais e episódios intermitentes de toxicidade.

De acordo com o relatório, o Santa Bárbara apresenta sinais de recuperação, mas ainda não pode ser considerado seguro.

“As variações observadas em metais e fósforo, especialmente nos pontos mais próximos ao lixão, indicam que o ambiente segue vulnerável e exige acompanhamento contínuo”, diz o documento. Atualmente, a empresa Ouro Verde discute com a Semad medidas de recuperação ambiental de médio prazo.

Análise mostra alta contaminação do córrego Santa Bárbara após desabamento de lixão
Lixo contaminou córrego Santa Bárbara, em Padre Bernardo. Foto: Semad/ Divulgação

O relatório recomenda a manutenção do monitoramento contínuo, especialmente durante o período chuvoso, a reavaliação de possíveis fontes de poluição ao redor do aterro e o reforço das barreiras de contenção e lagoas de chorume. Também orienta a continuidade dos testes de toxicidade biológica, fundamentais para identificar rapidamente novos episódios de contaminação.

Embora o córrego não seja utilizado para abastecimento doméstico, ele é importante para irrigação agrícola e dessedentação animal. Por precaução, o uso da água segue proibido até que novas análises confirmem a estabilidade dos parâmetros ambientais durante a estação das chuvas.

Melhora gradual após ações emergenciais

Logo após o desmoronamento, os indicadores ambientais do córrego entraram em colapso. O nível de oxigênio dissolvido chegou a apenas 0,8 mg/L, inviabilizando a sobrevivência da fauna aquática, enquanto a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) atingiu 30,4 mg/L, seis vezes acima do limite permitido.

A partir de agosto, no entanto, as ações emergenciais começaram a surtir efeito. Entre as medidas adotadas estão a remoção de 62,8 mil metros cúbicos de lixo do leito e das margens do córrego, o escoamento controlado das lagoas de chorume, a construção de uma nova bacia de contenção e a instalação de barreiras para evitar o carreamento de sedimentos contaminados.

As ações, somadas ao processo natural de autodepuração do córrego, quando a própria corrente e os microrganismos degradam parte dos poluentes, resultaram em melhora gradual da qualidade da água.

Córrego Santa Bárbara ainda tem metais tóxicos mesmo após ações de limpezaCórrego Santa Bárbara ainda tem metais tóxicos mesmo após ações de limpeza
Foto: Semad/ Divulgação

Apesar do avanço, alguns parâmetros seguem fora dos limites legais. O manganês, que deveria estar abaixo de 0,1 mg/L, chegou a 5 mg/L em agosto. O metal, em excesso, pode causar problemas neurológicos em humanos e animais, além de afetar a respiração dos peixes.

O fósforo apresentou valores até seis vezes superiores ao permitido, favorecendo a eutrofização, processo que estimula o crescimento excessivo de algas, reduz o oxigênio da água e pode levar à morte de peixes e outros organismos.

Outros metais, como níquel e zinco, também registraram picos em julho e agosto. Ambos são bioacumulativos, ou seja, tendem a se acumular no organismo de peixes e podem contaminar a cadeia alimentar. Já os fenóis, detectados em até 0,29 mg/L, quase cem vezes acima do limite legal, são potencialmente cancerígenos e prejudiciais ao fígado e aos rins.

Em setembro, todos esses parâmetros apresentaram queda significativa, com alguns já dentro dos limites estabelecidos pela legislação ambiental. Mesmo assim, o relatório reforça que o monitoramento deve continuar de forma permanente, até que os níveis se mantenham estáveis e seguros para o ecossistema local.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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