Após 60 anos de silêncio, documentos secretos mostram como falhas humanas, pressa militar e erros de engenharia levaram o submarino nuclear USS Thresher a uma tragédia que matou 129 tripulantes no auge da Guerra Fria.

Em 9 de abril de 1963, o poderoso USS Thresher, considerado o submarino mais avançado e silencioso de seu tempo, desapareceu no Atlântico durante um teste de mergulho a mais de 1.300 pés de profundidade, cerca de 400 metros.

Projetado para caçar submarinos soviéticos durante a Guerra Fria, o Thresher levava 129 pessoas a bordo, todas morreram.

Por décadas, o caso foi envolto em mistério, teorias e suspeitas de encobrimento, até que arquivos desclassificados da Marinha dos EUA, com mais de 3.600 páginas, revelaram o que realmente aconteceu naquele dia.

Nesta foto de arquivo de 9 de julho de 1960, o submarino de ataque nuclear USS Thresher da Marinha dos EUA é lançado com a proa para a frente no Portsmouth Navy Yard em Kittery, Maine – Reprodução web

O que os arquivos revelam

Os documentos, liberados após um processo movido pelo comandante aposentado James Bryant, mostram que não houve um único erro fatal, mas uma cadeia de falhas simultâneas:

  • Tubos de solda defeituosos permitiram que a água do mar invadisse o submarino;
  • O vazamento curto-circuitou os sistemas elétricos, desligando motores e controles;
  • Os tanques de lastro falharam, impedindo a subida;
  • E a tripulação, insuficientemente treinada, não conseguiu reagir a tempo.

Quando o USS Thresher tentou emergir, os sonares captaram o som do casco sendo esmagado pela pressão, segundos antes de o contato ser perdido.

Horas depois, destroços foram encontrados a quase 2.500 metros de profundidade.

Naufrágio do USS Thresher (SSN-593), 1963 – Imagens desclassificadas

Corrida contra o tempo, e contra a União Soviética

Segundo especialistas, a tragédia foi resultado da pressa da Marinha em colocar o Thresher em operação para enfrentar uma nova geração de submarinos nucleares soviéticos.

A corrida armamentista exigia velocidade, e isso comprometeu treinamento, inspeções e segurança.

“Os marinheiros acreditavam que um submarino nuclear jamais perderia energia. Essa confiança custou caro”, declarou o historiador naval Norman Friedman.

O impacto: a tragédia que salvou centenas de vidas

O desastre do Thresher, seguido pela perda do USS Scorpion em 1968, levou à criação do programa SUBSAFE, um rigoroso sistema de certificação que garante que submarinos possam sempre retornar à superfície, mesmo em emergências extremas.

Graças a ele, a Marinha dos EUA não perdeu mais nenhum submarino em 52 anos.

O almirante Scott Pappano afirmou em 2023:

“A perda do Thresher foi um divisor de águas. Ela nos obrigou a repensar como projetamos e operamos submarinos. E garantiu que nunca mais repetíssemos os mesmos erros.”

O fim do segredo, e o começo da verdade

Para o comandante Bryant, a liberação dos arquivos foi um ato de justiça e transparência.

“Durante décadas, achavam que a Marinha escondia um encobrimento. Agora, vemos que o segredo era apenas para proteger detalhes operacionais de submarinos nucleares.”

Com os documentos finalmente abertos, a tragédia do Thresher deixa de ser uma sombra da Guerra Fria e se transforma em uma lição eterna sobre soberba, pressa e o preço da inovação militar.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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