Estreou nos cinemas nesta quinta-feira (4), Amazônia, A Nova Minamata?, documentário do cineasta e roteirista Jorge Bodanzky, conhecido por obras emblemáticas como Iracema, Uma Transa Amazônica. O filme mergulha no cotidiano do povo Munduruku, no Pará, e revela como a contaminação por mercúrio, decorrente do garimpo ilegal de ouro, ameaça não apenas comunidades indígenas, mas toda a Amazônia.

“Fiz muitos filmes sobre a região, mas este é seguramente um dos mais importantes e difíceis da minha vida, pois alerta para os riscos que a contaminação de mercúrio significa para as novas gerações da região”, comentou Bodanzky.

A narrativa começa em 2016, quando o cineasta, gravando entre os Mundurukus, ouviu o relato de um médico de que haviam quase 200 pedidos de cadeiras de roda para crianças com problemas neurológicos.

Para contextualizar o drama amazônico, Bodanzky viajou ao Japão e recuperou a história de Minamata, cidade marcada por um dos maiores desastres ambientais do século XX. Lá, uma indústria despejou mercúrio no mar da região ao longo de vários anos, envenenando a população. O resultado foi a morte de muitas pessoas e uma geração de crianças com má formação congênita.

Nas filmagens, em 2021, os sobreviventes da cidade japonesa contaram a história de sua luta para acabar com a contaminação e recuperar a baía de Minamata. Esta mensagem virou um curta, que foi dublado em Munduruku e apresentado às comunidades indígenas para informar a população sobre as consequências do garimpo em suas terras.

Lideranças Munduruku, como Alessandra Korap, que haviam convidado médicos e pesquisadores para investigar os problemas de saúde da sua comunidade, começaram a se mobilizar para conter a atividade garimpeira em seu território.

Amazônia, A Nova Minamata? acompanha as investigações do neurologista paraense Erick Jennings e cientistas da FIOCRUZ, em busca da razão de haver tantas crianças com problemas neurológicos na região, e mostra a luta de Korap e do povo Munduruku em defesa do futuro de seus filhos.

Para Bodanzky, o filme é uma denuncia de como a atividade garimpeira, principal responsável pelo desmatamento e degradação dos territórios indígenas e de áreas protegidas nesta década, está deixando um rastro de contaminação por mercúrio.

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“As pessoas sabem que o peixe está envenenado, mas é difícil enxergar o que está por trás disso e quais são as consequências. Resultados só serão visíveis nos próximos 20, 30 anos, pois os sintomas demoram muito para aparecer e esse filme é uma forma de alerta”, ele destacou.

Ao propor o paralelo com Minamata, Bodanzky lança um apelo global: a Amazônia pode repetir uma tragédia que já deveria ter ensinado ao mundo a urgência de proteger vidas contra a contaminação silenciosa do mercúrio.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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