O novo documentário de Jorge Bodanzky (de “Iracema, Uma Transa Amazônica”), “Amazônia, A Nova Minamata?”, chega aos cinemas em 4 de setembro, com distribuição da O2 Play. O filme acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território e, ao mesmo tempo, revela como a Doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje. Com coprodução da Globo Filmes e Globonews, e realização da Ocean Films, o longa foi produzido por Nuno Godolphim e João Roni, tendo Walter Salles e a VideoFilmes como produtores associados.
“Fiz muitos filmes sobre a região, mas este é seguramente um dos mais importantes e difíceis da minha vida, pois alerta para os riscos que a contaminação por mercúrio significa para as novas gerações da região amazônica”, comenta Jorge Bodanzky.
O documentário relata a dramática realidade que está hoje em curso na Amazônia. Invadida criminosamente pela mineração ilegal, que destrói a floresta enquanto deposita toneladas de mercúrio em seus rios, a Amazônia percorre o mesmo processo de contaminação silenciosa que aconteceu em Minamata no século passado.
Bodanzky, gravando entre os Mundurukus em 2016, ouviu o relato de um médico de que havia quase 200 pedidos de cadeiras de rodas para crianças com problemas neurológicos e resolveu começar a filmar as pesquisas que se seguiram.
Após levantar a questão do que estava ocorrendo no território Munduruku, no Pará, Bodanzky foi ao Japão para resgatar a história de Minamata, cidade cujos habitantes sofreram graves sequelas da contaminação por mercúrio despejado por uma indústria no mar da região ao longo de vários anos. Cenas que chocaram o mundo na época revelam o efeito desse metal pesado no sistema nervoso central de seres humanos. Muitas pessoas foram levadas à morte, e uma geração de crianças com má-formação congênita despertou a atenção da Organização Mundial da Saúde e da imprensa internacional.
Durante as filmagens, em 2021, os sobreviventes de Minamata, ao descobrirem a situação na Amazônia nos dias atuais, enviaram uma mensagem contando a história de sua luta para acabar com a contaminação e recuperar a baía de Minamata. Essa mensagem virou um curta, que foi dublado em Munduruku e apresentado às comunidades indígenas para informar a população sobre as consequências do garimpo em suas terras.
Lideranças Munduruku, como Alessandra Korap, que haviam convidado médicos e pesquisadores para investigar os problemas de saúde de sua comunidade, começaram a se mobilizar para conter a atividade garimpeira em seu território, enfrentando ameaças de todas as formas, incluindo a tomada da cidade de Jacareacanga por garimpeiros.
O documentário equilibra um conteúdo científico muito complexo com o drama humano dos indígenas, que se veem ameaçados por uma doença que compromete a saúde dos adultos de forma silenciosa, mas tem consequências desastrosas nas novas gerações.
“Amazônia, A Nova Minamata?” conduz sua narrativa de forma delicada ao acompanhar as investigações do neurologista paraense Erick Jennings e de cientistas da FIOCRUZ em busca da razão de haver tantas crianças com problemas neurológicos na região, para então ouvir o brado de Alessandra Korap e do povo Munduruku em defesa do futuro de seus filhos.
Para Bodanzky, o filme, sem ser apelativo, é uma denúncia de como a atividade garimpeira, principal responsável pelo desmatamento e degradação dos territórios indígenas e de áreas protegidas nesta década, está deixando um rastro de contaminação por mercúrio, o que vai afetar drasticamente a saúde das populações amazônicas por dezenas de anos.
“As pessoas sabem que o peixe está envenenado, mas é difícil enxergar o que está por trás disso e quais são as consequências. Resultados só serão visíveis nos próximos 20, 30 anos, pois os sintomas demoram muito para aparecer, e esse filme é uma forma de alerta”, destaca Bodanzky.
Sobre a Personagem
Alessandra Korap é reconhecida internacionalmente por seu trabalho em defesa de seu território. Em 2020, recebeu o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, nos Estados Unidos. Em 2023, ganhou o Goldman Prize (considerado o Nobel do Meio Ambiente) por sua luta contra mineradoras. Atualmente, é presidente da Associação Pariri, que representa as 13 aldeias do Médio Tapajós na região.