É quase um assunto “tabu” do lado português, mas que em Espanha, nomeadamente na Galiza, vai ter já no dia 13 de junho um processo pioneiro: a contaminação do rio Lima devido à pecuária intensiva.

O caso judicial decorre na Galiza contra a pecuária intensiva, responsável pela contaminação do rio Lima, chega esta semana ao tribunal e levanta preocupações sérias ao outro lado da fronteira: Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e “rio abaixo”.

O tribunal da província de Ourense irá julgar, no dia 13 de junho, um processo pioneiro sobre “os direitos humanos e ambientais dos habitantes”, devido à presença de cianobactérias perigosas na albufeira de As Conchas .

Contexto galego: poluição que atravessa fronteiras

Desde março, a Xunta da Galiza, vários concelhos e a Confederação Miño-Sil enfrentam ações legais movidas por organizações como Client Earth e Amigas da Tierra, apoiados por afetados da comunidade de As Conchas.

Peritos identificaram concentrações alarmantes de 97 milhões de bactérias perigosas por litro, fruto de efluentes de suínos e aves, que descem desde As Conchas até próximo de Lindoso.

Apesar disso, em maio, realizou-se em maio passado um torneio de remo na albufeira, contrastando com os alertas de saúde pública.

Análises das águas proíbe banhos em duas praias fluviais da albufeira de As Conchas
Análises das águas proíbe banhos em duas praias fluviais da albufeira de As Conchas

Impacto em território português: cor esverdeada e efeitos visíveis

Na margem portuguesa, a poluição já se manifesta claramente: o troço próximo de Lindoso e Ponte da Barca apresenta a água com tonalidade baça, cremosa e esverdeada, indício do bloom de cianobactérias que ultrapassam fronteiras.

A GNR e as autoridades do Ambiente monitorizam a situação, diante de fenómenos recorrentes nas barragens de Touvedo e Alto Lindoso, onde surgem lençóis de algas, afetando fauna, flora e ecossistemas sensíveis do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

contaminação do rio lima
Foto: E24

Reações políticas e ambientais em Portugal

O Bloco de Esquerda questionou em 2020 o Governo português sobre este caso, alertando para o risco de “importação” de contaminantes que atravessam o convénio da Convenção de Albufeira, colocando em causa áreas protegidas.

Desde 2020 que se sabe que os efluentes galegos — centrais à pecuária industrial — provocam eutrofização e blooms de cianobactérias na albufeira de As Conchas e afetam a água do lado português.

Riscos para a saúde e medidas emergentes

Especialistas alertam que o contacto com água contaminada pode causar reacções alérgicas, gastrointestinais e problemas respiratórios.

No contexto veraneio aumenta a preocupação, visto que atividades aquáticas — natação e remo — podem implicar perigos à saúde, como infecções e intoxicações.

Caminhos para a mitigação e futuro judicial

Para além do julgamento em Ourense, Portugal desenvolve projetos como o Living Lab do estuário do Lima, coordenado pelo CIIMAR em Viana do Castelo, que investiga técnicas naturais de purificação da água, como fitorremediação em sapais.

Estas abordagens tentam responder à crescente ameaça de poluição e aos desafios impostos pela intensidade rural e alterações climáticas.

O veredicto da ação judicial, marcado para dia 13, pode determinar medidas de correção, desde reduções drásticas nos efluentes pecuários até compensações e restrições, criando um precedente na Europa para responsabilização transfronteiriça por contaminação agrícola.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *