O vice-presidente financeiro do Banco do Brasil (BB), Geovanne Tobias, afirmou que o aumento da inadimplência da pessoa física observado no terceiro trimestre é pontual e refletiu principalmente a contaminação vinda do agronegócio, setor que atravessa alta inadimplência e renegociações. Segundo ele, o comportamento da carteira reflete efeitos transitórios.

“É importante você olhar para a inadimplência como pontual”, afirmou Tobias em teleconferência sobre o balanço do BB no terceiro trimestre de 2025. “Teve um aumento da inadimplência do cartão e tem o efeito contaminação vindo principalmente dos nossos clientes pessoas físicas que são do agro.” Segundo ele, à medida que as renegociações da MP 1.314 avançarem, essa pressão tende a diminuir.

Tobias: aumento da inadimplência da pessoa física observado no terceiro trimestre é pontual — Foto: Reprodução
Tobias: aumento da inadimplência da pessoa física observado no terceiro trimestre é pontual — Foto: Reprodução

A presidente do BB, Tarciana Medeiros, destacou que o terceiro trimestre já costuma registrar uma elevação sazonal da inadimplência da pessoa física. “No terceiro trimestre, normalmente, há uma sazonalidade de uma pequena elevação de inadimplência na pessoa física. Isso inclusive é histórico”, afirmou.

Medeiros acrescentou que, excluindo o efeito específico do agro, a carteira deve voltar a normalizar já neste fim de ano. “A gente acredita que essa inadimplência da pessoa física, ex-agro, já se normaliza agora neste último trimestre.”

A presidente afirmou que a sinalização de que o banco pretende crescer mais no portfólio de pessoa física (PF) no próximo ano não significa redução de foco nos segmentos de agronegócio e pessoa jurídica (PJ).

“Falar que vamos crescer mais a carteira de pessoas físicas não quer dizer que a gente não vai emprestar para o agro e não vai emprestar na PJ”, disse Medeiros em coletiva de imprensa. “O fato de estarmos afirmando sermos mais conservadores no crescimento da carteira de micro e pequenas empresas e do agro não quer dizer que nós não vamos fazer crédito.”

Segundo ela, manter o ritmo de 2025 para crescimento dos portfólios de agro e PJ em 2026 exige um esforço relevante de renovação das carteiras. A executiva explicou que grande parte das operações de PJ e agro vence em até um ano, o que torna necessária a retomada e a recontratação desses créditos, incluindo reforço de garantias, como a alienação fiduciária no agro e recebíveis na PJ.

Tobias ainda afirmou que as projeções do banco (guidance) já apontam para um lucro maior no último trimestre do ano. “Se você olhar o que está implícito no nosso guidance, a gente vai ter um quarto trimestre melhor em termos de lucro do que o terceiro.”

Recuperações judiciais no agro

O vice-presidente de riscos do Banco do Brasil, Felipe Prince, afirmou que o número de recuperações judiciais (RJ) no agronegócio voltou a crescer no terceiro trimestre. Ainda assim, ele comentou que o banco espera um arrefecimento desse movimento, em função da MP 1.314, que pode ser utilizada pelas produtores, desde que eles não estejam em RJ.

Segundo o BB, só com as RJs foi preciso provisionar quase R$ 1,3 bilhão no trimestre.

A MP 1.314 disponibiliza até R$ 12 bilhões para renegociações de produtores rurais afetados por desastres climáticos. Desse total, o BB ficou inicialmente com R$ 4,3 bilhões e segundo o vice-presidente de agro, Gilson Bittencourt, esse volume por enquanto parece suficiente. Se o banco ver, lá na frente, que poderia utilizar uma parcela maior desses recursos controlados, poderia tentar negociar alguma composição com os outros bancos que fazem parte do programa.

Além desses R$ 4,3 bilhões com recursos controlados, o BB pretende fazer mais cerca de R$ 20 bilhões em renegociações no âmbito da MP, mas com recursos livres. Neste caso, o banco se beneficia de um funding mais barato, ao poder usar nessa equação impostos diferidos. De qualquer forma, o banco explicou que o total de R$ 24 bilhões (R$ 20 bilhões de recursos livres e R$ 4,3 bilhões de controlados) é uma primeira meta.

“Esses R$ 24 bilhões podemos renegociar com benefício de capital, mas não existe uma limitação, se percebemos que tem produtos, tem operações, o saldo pode ultrapassar esse volume”, explicou Bittencourt. Segundo ele, também existem conversas para que o Conselho Monetário Nacional (CMN) permita o uso de LCA como funding dessas operações, o que seria positivo para o BB.

Tobias apontou que o agro vive uma tempestade perfeita e que ainda assim o banco tem conseguido passar por esse cenário mantendo um lucro forte e um ROE de quase dois dígitos.

“Da última vez que tivemos uma situação parecida, lá pelos idos de 1994, foi preciso fazer uma capitalização no banco”, comentou.

Prince explicou ainda que o BB tem revisto processos e revisado garantias, além de fortalecer a cobrança. Ele lembrou que nos últimos trimestres o banco passou a exigir alienação fiduciária nos contratos, e não mais penhor rural, seguindo uma estratégia que já é adotada pelos bancos privados.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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