As autoridades sanitárias francesas anunciaram a destruição de cerca de quatro milhões de garrafas de água gaseificada Perrier após análises indicarem que a água não cumpria as normas na fábrica da marca no departamento de Gard, no sul de França.
A Perrier é detida pela Nestlé, e o caso está a ser acompanhado de perto por entidades de saúde e por associações de consumidores, num contexto de sucessivos episódios de não conformidade identificados ao longo dos últimos meses.
De acordo com o canal internacional de notícias Euronews, e apesar da decisão de destruir milhões de garrafas, é esperado que um relatório da agência regional de saúde recomende ao representante do Estado no território (prefeitura) a renovação da licença de exploração como “água mineral natural”, com uma decisão apontada para antes do final do ano, após parecer do comité técnico local.
Poços fechados e “alertas” a acumular
Uma investigação da Radio France, citada pela Euronews, refere que os dois últimos poços de produção da unidade foram suspensos na semana passada, após a deteção de nova contaminação bacteriana, num caso que voltou a acender o debate em torno do controlo e da segurança do produto.
Segundo a mesma informação, um dos poços esteve encerrado entre 23 e 28 de novembro. A Nestlé indicou que o outro poço foi interditado devido a uma falha de energia, acrescentando que a produção foi retomada e que a água é segura para consumo.
As fontes citadas apontam ainda para um aumento de episódios de contaminação desde maio, após a remoção de filtros de microfiltração de 0,2 microns. A empresa terá registado 27 casos de não conformidade ligados a “variações bacterianas”, confirmados pela autoridade regional de saúde.
Bactérias detetadas e destruição de lotes
Entre os episódios destacados surgem a deteção de Pseudomonas aeruginosa (a 3 de setembro), que levou à destruição de milhares de garrafas, e a identificação de E. coli (a 22 de setembro) na linha de produção, levantando a hipótese de contaminação na origem.
Não é, de resto, a primeira vez que a marca enfrenta medidas deste tipo. Em 2024, a Nestlé já tinha destruído dois milhões de garrafas Perrier “como medida de precaução”, após degradação da qualidade da água num poço em Gard e referência a bactérias de origem fecal.
Em paralelo, um relatório de uma comissão de inquérito do Senado francês, entregue em maio de 2025, enquadra o tema num debate mais amplo sobre práticas da indústria da água engarrafada e responsabilidades de supervisão pública, incluindo dúvidas sobre “pureza original” e contaminações bacteriológicas regulares associadas ao caso Perrier no Gard.
Justiça, rotulagem e o “estatuto” de água mineral
A polémica chegou também aos tribunais. Em 18 de novembro, o Tribunal Judicial de Nanterre rejeitou pedidos da UFC-Que Choisir para suspender provisoriamente a comercialização de Perrier, num diferendo centrado, entre outros pontos, na forma como o produto é apresentado ao consumidor enquanto “água mineral natural”.
Segundo a Euronews, a própria UFC-Que Choisir tem defendido medidas conservatórias, pedindo retirada e recolha temporária das garrafas e apontando o uso passado de tratamentos e microfiltração como elemento central do caso.
Em França, o estatuto de “água mineral natural” está associado à ideia de pureza e a exigências específicas: o relatório do Senado sublinha que estas águas devem ser microbiologicamente sãs e engarrafadas tal como emergem, sem tratamentos suscetíveis de alterar as suas características.
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