Mesmo após anos desde o início da crise causada pelas atividades criminosas e destrutivas da Braskem SA, o povo de Maceió (AL) continua sofrendo com os impactos causados pela petroquímica, e milhares de moradores ainda enfrentam as consequências do desastre causado pela extração de sal-gema.
A Defensoria Pública do Estado de Alagoas recebeu novos estudos que confirmam o avanço acelerado do afundamento do solo no bairro do Bom Parto, em Maceió. A informação foi divulgada pelo defensor público estadual, Ricardo Melro, que afirmou que os dados, processados de forma independente, comprovam a magnitude da situação. Segundo ele, setores classificados como criticidade 01 já deveriam estar no nível máximo de risco desde dezembro de 2024.
Melro enfatizou que há regiões sem qualquer classificação no mapa atual, mas que já apresentam subsidência contínua e excessiva, com velocidade de afundamento que chega a 50 milímetros por ano. O engenheiro e pesquisador Abel Galindo confirmou os estudos apresentados pela Defensoria Pública de Alagoas, que apontam aceleração no processo de afundamento do solo do bairro do Bom Parto.
A principal causa se dá pelas minas desativadas de extração de sal-gema da Braskem, de número 34 e 11. A primeira, que classificou como “uma das mais perigosas”, em 2019 já havia subido 70 metros em direção à superfície e a mina 11, subido cerca de 120 metros. “Provavelmente continuam subindo e assim provocando desmoronamento de rochas e camadas de terra”, explicou.
Conchavos e interesses escusos
Mesmo diante de todas as evidências, a Defesa Civil Municipal se recusa a interditar os imóveis, alegando que a região está sendo “monitorada”.
Quase um ano após a Braskem SA ser condenada na justiça da Holanda, vítimas do afundamento em Maceió entraram com um novo recurso no dia 24 de junho. O pedido busca estender a responsabilidade às subsidiárias europeias envolvidas nas operações da petroquímica no Brasil.
Em 2024, a Corte de Roterdã concluiu que a Braskem SA foi responsável pelo desastre causado pela extração de sal-gema. O novo recurso argumenta que as subsidiárias da Braskem na Holanda lucraram com as atividades de mineração em Maceió e contribuíram diretamente para a operação que causou o afundamento de cinco bairros (Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol).
Em 2020, durante o período das eleições municipais, o então candidato bolsonarista, João Henrique Caldas, percorreu os bairros afundados pela mineração criminosa da Braskem prometendo “compromisso total” com os moradores afetados: “Vamos cobrar da Braskem toda a indenização devida… os incentivos que a prefeitura deu à empresa (Braskem) serão revertidos para o povo”.
No entanto, poucos meses após assumir a Prefeitura de Maceió, Caldas mudou o tom. Em vez de enfrentar a Braskem, como havia prometido, o prefeito passou a ter relações sigilosas com a cúpula da mineradora que culminaram em um acordo selado sem transparência e que rendeu R$ 1,7 bilhão à prefeitura – recursos que não foram destinados à recuperação das regiões afundadas, tampouco ao amparo dos mais de 60 mil moradores atingidos.
Desmascarando a falcatrua
Os moradores da comunidade dos Flexais, uma área isolada no bairro do Bebedouro, publicaram recentemente um vídeo em uma página sua nas redes sociais. Nele, escancaram a principal mentira de João Henrique Caldas: a de que os moradores atingidos seriam colocados em “pé de igualdade” com a empresa. Hoje, ainda vivem abandonados, à margem de indenização, assistência médica e apoio psicológico.

Até 2018, o risco de afundamento era pouco falado e a população focava apenas em rumores sobre vazamento de cloro. Entretanto, um tremor que provocou rachaduras em imóveis trouxe a tona a gravidade da situação. O solo passou a ceder em áreas urbanas bastante habitáveis, forçando a evacuação de milhares de famílias.
Durante muitos anos, a gravidade dos danos causados pela extração foi minimizada tanto pela Braskem quanto pelo monopólio de imprensa. No início, a preocupação estava ligada à possíveis vazamentos químicos e não ao afundamento solo.
Como já noticiado por AND, os problemas que o povo de Maceió vem enfrentando com as operações criminosas de extração de sal-gema não são de agora, mas sim têm raízes profundas ligadas aos interesses financeiros internos das classes dominantes brasileiras e também externos de seus amos, as grandes potências imperialistas.